segunda-feira, 29 de setembro de 2008

The L Word(s)

Estranhei a vitória, mas ainda mais o Sporting ter ficado a zero!
Pelas imagens que depois consegui ver na internet, parece que nao jogaram o Luisao nem o Liedson? Isso explicaria tudo.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Alsácia-Lorena?

Nao sei muito bem o que é que estava em causa, desta vez.
Mas a Alemanha e a França andavam novamente pegadas uma com a outra, e a disputa ainda chegou a parecer renhida durante um bocado, embora depois tenha terminado num claro 3-0, a favor das germanicas.
Alguns já terao percebido, é novamente o voleibol feminino a cruzar-se no meu caminho. Desta vez, o clássico: em pavilhao, com atletas vestidas. Mas nem por isso menos telegénico. Afinal, tal como a lama na luta greco-romana, também a areia aqui é dispensável.
A equipa é de seis: as do bloco talvez um bocadinho altas, as da manchete talvez um bocadinho baixas, mas todas muito elegantes. E amigas umas das outras: depois de cada ponto, seja ele ganho ou perdido, demorado ou nem por isso, juntam-se sempre numa roda ao centro do campo, para mais uma sessao de abraços, festinhas e palmadinhas. Incentivos.
Às vezes até parece que passam mais tempo nisso do que propriamente a jogar. Por mim, nada contra e muito a favor. Só acho que, se afinal estamos todos de acordo, talvez fosse mais honesto arrumar a rede e a bola, e já agora dizer ao senhor árbitro que nao está ali a fazer nada.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Valentino from all times




Foi com grande supresa que encontrámos estas fotos nas tuas gavetas. para que os outros saibam quantos valentinos diferentes já foste...

Um dia de domingo


Foi talvez há mais de um mes, num domingo sem história, que resolvemos dar este passeio aqui pelas redondezas.
Seguimos as setas que indicavam a marina (uma coisa que nos parecia bastante insólita, assim no meio do campo), porque queríamos saber se podíamos alugar um barco por uma tarde para passear nos tais canais, e quais os percursos possíveis.
Afinal, a coisa é mais séria do que pensávamos: a rede tem centenas de quilómetros e atravessa vários condados; todos os roteiros demoram vários dias e os barcos estao equipados com tudo o que é preciso para umas férias em família – aliás, num layout muito curioso, fortemente condicionado pela largura dos próprios canais.
Portanto, nao era programa para nós. Mas valeu a pena o passeio: já nao nos preocupa tanto que o nosso apartamento nao tenha espaço para receber visitas! Quem quiser vir é muito bem vindo, e pode desde já começar a informar-se:
http://www.empressholidays.co.uk/index.html

Frustrado o plano do barco, voltámos para o carro e abalámos da marina à procura de algo que nos reconfortasse. Eu propus gelados artesanais, porque me lembrava de ter visto, algures por ali, uma tabuleta à beira da estrada a anunciar uma quinta onde os faziam.
A Ana nao só concordou imediatamente, como me levou até ao sítio certo num instante. Alega que se orientou por este estranho moinho de vento feito em palha, que se ve de todo o lado, mas eu fiquei a achar que a empregada lhe sorriu de forma cúmplice e perguntou se ela queria o costume...
Em qualquer caso, os gelados merecem a visita. Vim depois a descobrir que a escultura de palha muda todos os anos e é realmente uma manobra de marketing bem engendrada. Além disso, a quinta tem um pequeno cais, para receber quem navega no canal vizinho. Entao, já agora, os nossos futuros hóspedes podem também consultar:
http://www.snugburys.co.uk/index.htm

Já na volta, aconteceu-me ver isto. Nao é garantido que se repita, e desta vez nao há links possíveis... Fica só o registo, da paisagem e da luz.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

17/9, o dia das primogénitas

A Sara fez 8 anos (embora me pareça que cresceu mais do que isso, só no último mes). As comemoraçoes por aqui foram modestas, mas ainda assim suficientes para a fazer sentir a data em cheio. Muito obrigado aos que se fizeram presentes com presentes, cartas e postais, telefonemas ou e-mails! Ainda que muito provavelmente ela nao consiga responder a todos, posso garantir que apreciou mesmo receber cada um deles.

Entretanto, a Pilar escolheu exactamente este dia para nascer. Já a prima Joana tinha feito o mesmo, levando metade da família das nossas festas de aniversário; agora vem esta pirralha, roubar-nos metade dos amigos! Depois admiram-se que as pessoas desistam, e emigrem... Claro que nao lhe levamos nada a mal, e estamos ansiosos por conhece-la. Mas, se agora já gostamos tanto dela, como será quando a virmos?

E soube também que a Ines já vai para o Técnico! Se me perguntassem, diria que era cedo demais, mas bem que me tinham avisado que o tempo passa a correr, quando se está por fora... É engraçado, sempre a imaginei a estudar Direito, como a mae, na Católica, como o pai. Acho que isto ainda deve ser efeito do babysitting da tia Ana, mas se é mesmo a sua vontade, devemos respeitá-la. É civil, mecanica ou electrotécnica?

Margot

© SMAS-SINTRA, 2008
No azul profundo do oceano, nasceu um dia mais uma gota. Os pais chamaram-lhe Margot. «Chamaram-lhe Margot?», perguntaram as tias. «Chamaram-lhe Margot...», estranharam as amigas. «Chamaram-lhe Margot!», gracejaram as vizinhas. É que por ali todas as gotas tinham nomes normais, como Sara ou Matilde. Margot parecia francês e soava-lhes pretensioso.

Como alguns já sabem, Margot é o título de uma história infantil, escrita por mim e ilustrada pela Joana Ratao e pela Elisa Paulino, com base numa ideia dos SMAS-SINTRA, que editam o livro e vao distribuí-lo ao longo do ano pelas crianças do concelho, em acçoes de sensibilizaçao ambiental.
Há algum entusiasmo em torno do projecto, e organizaram-se várias actividades extra, para os próximos dias. Eu já estou com pena de nao estar presente. Em jeito de convite para os amigos com filhos, deixo aqui o programa dos eventos, com uma referencia especial aos ateliers de expressao plástica (orientados pelas minhas amigas, que sao óptimas naquilo que fazem) e para a teatralizaçao do livro (essa só por curiosidade pessoal, na esperança que alguém grave e ponha no youtube).

MARGOT - Exposição, Lançamento e Ateliers no Cascaishopping

. 27 de Setembro a 5 de Outubro - Exposição das ilustrações

. 27 Setembro das 10h às 13h - Atelier de Expressão Plástica
. 27 Setembro das 15h às 18h - Atelier de Expressão Escrita
. 28 Setembro das 10h às 13h - Atelier de Expressão Dramática
. 28 Setembro das 15h às 18h - Concertos Pedagógicos

. 1 Outubro às 10h - Lançamento do Livro. Sessão fotográfica e distribuição de alguns livros a crianças.
. 1 Outubro às 11h - Teatralização do Livro

. 4 Outubro das 10h às 13h - Atelier de Expressão Dramática
. 4 Outubro das 15h às 18h - Atelier de Expressão Plástica
. 5 Outubro das 10h às 13h - Atelier de Expressão Escrita
. 5 Outubro das 15h às 18h - Concertos Pedagógicos

A escola

Já aqui descrevi o nosso passeio matinal até à escola, e muita gente tem perguntado como está a correr a adaptaçao das meninas a esse ambiente. Talvez seja altura de fazer um primeiro balanço, até porque o balanço é positivo (aliás, geralmente o segredo do bom balanço é o bom timing).
A Matilde teve muita dificuldade, ao começo. Bem vistas as coisas, ela tinha acabado de adaptar-se à creche de Lisboa, e nao estava a perceber a vantagem desta, em que ninguém falava portugues. Enchemos dois A4 com algumas palavras e as expressoes essenciais. A Fiona e a Amy bem que se esforçaram por decorá-las e repetir-lhas, mas tenho ideia que a certa altura já nem a nossa filha as entendia nem elas sabiam o que estavam a dizer.
Felizmente, a Matilde tem estado a apanhar rapidamente o ingles. Julgo que já percebe bastante; conta de um até dez, diz o nome das educadoras, bom dia e boa tarde, por favor e obrigado. Está mais renitente em pedir desculpa, mas isso nem em portugues lhe ouvimos alguma vez. Também já vai experimentando alguma comida da creche, e brincando: canta, dança e lá fora imita rabbits.
À conta destes episódios, e de em certos dias se lembrar de arrumar a sala toda sozinha, de vez em quando a nossa pequena volta para casa muito orgulhosa, de peito feito com um destes autocolantes na lapela.

Com a Sara, as coisas começaram a correr bem logo ao princípio. Mas é preciso ver que ainda nao eram aulas: esteve inscrita num clube de verao, no espaço da escola e junto de alguns futuros colegas, mas apenas com actividades recreativas. Acho que foi bom, para começar a integrar-se sem pressao e a fazer algumas amizades; só que nao havia atribuiçao de distintivos...
O arranque do ano lectivo satisfez-lhe rapidamente esse desejo. Até hoje, trouxe todos os dias um autocolante ao peito. Claro que nao devemos valorizá-lo em demasia: afinal, sao os autocolantes que dao no refeitório aos meninos que comem tudo, e filho de peixe sabe nadar.
Mas, para além desses, já teve vários outros, colados nas folhas dos trabalhos de casa; e recebeu também este Certificado de Excelencia (reconhecendo a sua boa integraçao na escola e os progressos no ingles), que temos pendurado na porta do frigorífico com um íman do nosso herói, o Cristiano Ronaldo.


PS: ontem a Sara vinha radiante, com um autocolante que dizia ¡Estupendo!. A Ana e eu achámos estranho, porque normalmente dizem Well Done, Great Work ou Excellent... Mas afinal a explicaçao é bem simples: embora tenha acabado de chegar, a nossa filha já é a melhor em castelhano (a língua estrangeira obrigatória), e até fica à conversa com o professor depois da aula! Temos cá um orgulho nela...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Um post por encomenda

Assustado com os relatos de amigos, multados em países civilizados por errarem um contentor ou uma data, o lixo e a reciclagem foram das minhas primeiras preocupaçoes, à chegada. Muito se espantou o rapaz da agencia imobiliária que nos alugou a casa com esta minha fixaçao, e talvez eu tenha sido o primeiro cliente que inspeccionou mais depressa a sala do que os caixotes.
Será coisa de família? Nao me parece coincidencia que a Rantanplan me tenha sugerido um post sobre este tema, para comemorar o seu regresso ao ciberespaço! Entao, especialmente para ela mas também para todos os outros curiosos, aqui fica uma descriçao do sistema em vigor nestas terras de Sua Majestade.
As recolhas sao selectivas, e com grandes intervalos de tempo: papel uma vez por mes, produtos recicláveis e lixo organico a cada quinze dias, em semanas alternadas. Esta periodicidade obriga a que cada apartamento tenha tres grandes contentores, para onde transferir as coisas com a frequencia que a salubridade do lar exige.
Na foto podem ver como, à conta de tanto contentor, se perde um valioso lugar de estacionamento nas traseiras do prédio.



O verde é para o papel. Mas só o bom: nao querem listas telefónicas, nenhum tipo de cartao, nem sequer envelopes – presumo que por causa do rectangulo de acetato no lugar do destinatário, ou dos restos de cola nas abas.
O cinzento é para os produtos recicláveis. Aqui sim, aceitam as listas, os cartoes e os envelopes, que vao junto com todas as latas e todos os plásticos, excepto garrafas de óleo, embalagens de margarina e copos de iogurte. Tudo o que lá se poe deve estar limpo e seco, ou entao o contentor fica um nojo; é que também nao podem ir sacos de plástico, e o lema é: «bin it, don’t bag it».
O preto é para todo o lixo organico, e também para tudo o que nao podemos por nos outros mas também nao nos apetece propriamente guardar como bibelot. Aqui, ao contrário, tudo deve ir bem acondicionado e toda a gente usa sacos próprios, com atilhos e costuras resistentes.
Há ainda uns castanhos, mas que sao só para as moradias, porque se destinam aos resíduos da jardinagem. E isto completa o panorama, no que respeita aos contentores municipais, que os particulares tem obrigaçao de manter em bom estado, deixar na rua e recolher nos dias marcados.
Agora, os habitués perguntam: «E o vidro?». Também demorei um pouco a descobrir, mas para isso é preciso ir ao vidrao. Pois é, os tres contentores de 240 litros à porta de casa dao uma ajuda, mas nao é suposto substituirem os bons dos Ecopontos! Se isso acontecesse, o que faríamos com os texteis (excepto edredons), os sapatos (desde que emparelhados, em bom estado e com atacadores) e o papel de alumínio? Nao podia ser...
Agora, os experts perguntam: «E as pilhas?». Isso também eu queria saber! Um destes dias dei a volta à terra toda, decidido a desfazer-me responsavelmente de um par delas, que levava no bolso... Mas acabei por deitá-las num cesto de lixo comum, desses que há no meio da rua. Antes disso, contudo, envolvi-as bem num lenço de papel: nao para proteger o meio ambiente, mas para me proteger a mim, das indiscretas camaras de vigilancia que aqui espalharam por toda a parte!

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Ainda as sandwiches (outra vez)

Afinal, foi precipitaçao afirmar que aquela era a melhor sandwich do mundo!
Passados alguns dias a almoçar de faca e garfo, a coisa caiu no esquecimento. Mas ontem voltou a faltar a refeiçao da véspera, e eu imediatamente pensei em repetir a sandwich. Só que o fiambre estava acinzentado e o queijo de cabra amarelado; nem foi preciso ler as embalagens para perceber que o tempo do best before já tinha passado.
Mas quantas vezes as grandes descobertas nao sao fruto do acaso, ou de pequenos detalhes imponderáveis, como esse? Hoje, sem qualquer dúvida, posso garantir que afinal a melhor sandwich do mundo é igualzinha à outra, mas com os ingredientes ligeiramente estragados. É mais intenso...

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Miúdos



As coisas começaram a correr mal bem cedo.
Na verdade eu ainda estava a dormir, quando a Ana soube que nesse dia nao teria a boleia habitual para o trabalho e entrou pelo quarto a lamuriar-se. Como de costume, respondi-lhe com bocejos e grunhidos, mas ela jura que me ouviu dizer: «Nao te preocupes, amor: vai de carro, que eu levo as meninas a pé para a escola!».
Apesar de terem acordado mais cedo, a Sara e a Matilde estavam muito bem dispostas. E o céu, embora nublado, nao prometia chuva. O pequeno passeio matinal até começava a parecer boa ideia, e descemos animados a escada do prédio. Excepcionalmente, dirigimo-nos para a porta principal (que dá para a rua e nao para o estacionamento) e através do vidro vimos logo dois miúdos com uniformes iguais ao da Sara!
Só cá fora é que percebemos que isso nao era uma extraordinária coincidencia: a nossa rua, normalmente deserta, estava nessa altura pejada de miúdos, todos de uniforme e todos caminhando na direcçao das escolas (sao tres muito próximas, duas primárias e uma secundária).
Seguimos com aquele grupo, ora pela estrada principal, ora por uns atalhos desconhecidos, que ainda nos pouparam alguns metros. De dentro de cada casa, de trás de cada sebe, de cada uma das inúmeras vielas, nao paravam de surgir
miúdos fardados, que vinham engrossar a nossa coluna em marcha.
Talvez por termos chegado em período de férias, eu nunca tinha visto aqui nem um décimo desta miudagem. Uns apareciam de bibicleta, outros de trotineta. Os que vinham a pé procuravam os amigos na multidao e juntavam-se a eles. Abraços, anedotas, risos e cochichos. Uma peregrinaçao muito alegre e salutar.
A única coisa que nao me pareceu bem foi o uniforme das jovens do secundário: camisa branca abotoada, gravatinha e casaco curto, collants e saias a acabar um palmo acima do joelho! Talvez isto sejam devaneios meus, mas achei bastante... desestabilizador.
Aliás, foi precisamente nessa manha que acabei por me perder, quando regressava a casa. Já aqui atribuí as responsabilidades aos urbanistas, aos arquitectos e ao clima. Mas, para ser rigoroso, talvez seja preciso juntar-lhes esse quarto factor.

Notícias do meu país

Ontem à noite, a televisao deu notícias do meu país.
Infelizmente, falou também de uma tal Dinamarca!
Pois é, a Sky nao cala a desgraça...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

The Belly of an Architect

Achei que a minha barriga pesava 4kg.
Cheguei a essa conclusao com a ajuda de uma balança e de um espelho: a primeira dizia-me que eu tinha quatro quilos a mais; o segundo mostrava-me onde é que eles estavam. Sem margem para dúvidas.
Ingenuidade minha, achei que a barriga e o excesso de peso eram uma, e a mesma coisa: acalentei esta ideia de que, se nao tivesse barriga, pesaria oitenta quilos; e que, se pesasse oitenta quilos, nao teria barriga.
Pois bem, após um mes de ginásio e de piscina, sem qualquer tipo de dieta ou coisa parecida, parece que peso oitenta quilos. Digo «parece», porque é o que a balança marca, mas no fundo custa-me acreditar: passo a mao por cima, viro-me de lado em frente ao espelho, e a barriga continua igualzinha ao que era!
Portanto, perdi quatro quilos, mas nao foram os da barriga, e nao sei de onde foi (até tenho receio que seja qualquer coisa que me faça falta). Ainda arranjo para aqui um problema: se continuo a emagrecer desta forma, há-de chegar o dia em que peso quatro quilos e sou só esta barriga.
Está visto, a maior dificuldade nao é perder o peso, mas redestribuí-lo! Deve ser a isso que chamam o body building, e se calhar eu devia inscrever-me... Mas tenho ideia que dói. Acho que prefiro mandar mais uns curriculos e continuar a tentar a minha sorte no building building.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Noitadas

Pois é.
Eu aqui a contar histórias de pardalitos feridos, ou outras canduras semelhantes, e o atelier todo enfiado num antro de perdiçao, a assistir ao striptease até às tantas da madrugada. http://www.youtube.com/watch?v=1hkTt2m4OX4
Está visto quem é que tem alguma coisa para contar!
Algo me diz que vamos ter que repensar esta relaçao...

domingo, 7 de setembro de 2008

Os carteiros

É impossível nao simpatizar com um homem que se faz transportar numa bicicleta. Quem pilota um jacto privado pode ser um esclavagista moderno; quem comanda um barco pode ser um traficante de droga; quem conduz um carro pode ser um arquitecto com ideias; quem guia uma mota pode ser um assaltante de esticao. Mas quem anda de bibicleta é inofensivo, com certeza.
Naturalmente, nao estou a falar dos adolescentes das BMX, que fazem parte de gangs e andam à naifada uns aos outros, nem dos radicais ciclistas de domingo, que durante a semana sao gestores de companhias de seguros.
Falo daqueles que, quotidiana e humildemente, usam a bicicleta como o seu meio de locomoçao, ou mesmo como o seu instrumento de trabalho. No topo da lista, claro, estao os carteiros: primeiro lugar para François em Jour de Fete, segundo para Mario Ruoppolo em Il Postino, terceiro (ex aequo) para todos os funcionários do Royal Mail.



Apesar de se terem atrasado mais de quinze dias na entrega do postal da Catarina para as meninas, a minha admiraçao por eles é total. Ao contrário do carteiro Paulo, estes daqui nao andam em carrinhas engraçadas: andam sempre de bicicleta, e portanto quase sempre à chuva. Aqui no bairro, sao dois:
Há o carteiro, que é um quarentao com um bom aspecto tremendo: cara e corpo enxutos pelo exercício e pelo ar livre, cabelo encaracolado preto com muitos brancos pelo meio. O género de homem que em Milao seria modelo, em Hollywood seria actor e em Portugal seria primeiro-ministro. Aqui é carteiro, e parece feliz com isso: haviam de ver a graça com que sobe para a bicicleta em andamento (exactamente como fazia o meu avo Chambel)!
E há a carteira, uma jovem sardenta e risonha, de cabelo ruivo encaracolado, com uma figura atlética (faz lembrar aquelas bielorussas que ganham medalhas de ouro no lançamento do peso). A bicicleta range, os pneus nunca pareceram tao fininhos, mas a coisa marcha... Um destes dias vimo-la a distribuir correio só com uma mao, parecia trazer o outro braço ao peito. Cumprimentámo-la ao longe, mas ela chamou a Sarinha, para ver: trazia um pardalito ferido ao colo!

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Ainda as sandwiches

Entretanto, apesar da caixa de comentários quase vazia (obrigado pmarques), o post da melhor sandwich do mundo provocou várias e variadas reaçoes, que me chegaram por e-mail, telefone, video-conferencia e correio-à-moda-antiga.
Um senhor diz que descobriu e patenteou essa sandwich há décadas, e agora ameaça processar-me. Ora, eu nunca disse que tinha inventado a melhor sandwich do mundo, mas apenas que a tinha feito! Nao pretendo reclamar autoria nenhuma, hoje em dia tudo é reinterpretaçao de qualquer coisa e eu até acredito em coincidencias.
Alguns acharam leviano o título de melhor sandwich do mundo, perguntam como é que se pode afirmar tal coisa. Bom, eu próprio duvidei da minha primeira impressao, porque de facto nesse dia tinha passado tres horas no ginásio e talvez estivesse ligeiramente esfomeado. Para tirar as dúvidas, no dia seguinte voltei a fazer a mesma sandwich; só que que dessa vez evitei esforços físicos toda a manha e almocei normalmente, mesmo antes de a comer. Pode nao ser muito científico, mas foi o que me ocorreu, e a opiniao manteve-se.
Claro que as outras mensagens eram mais simpáticas. De um modo geral, todos gostaram da sandwich, mas a uns poucos parece que mudou o sentido da própria existencia. Os gourmets recomendam pequenas alteraçoes, trocar isto por aquilo, ou acrescentar qualquer coisa, e pedem-me para divulgar as variantes. Bom, aqui nao me parece o sítio próprio, mas (como nao gosto de desapontar ninguém) sugiro que visitem: http://www.capacetegastronomico.blogspot.com/.

Lost

Os arquitectos sabem quem foi Ebenezer Howard, percebem essas piadas à primeira e, assim como assim, já devem ter uma boa ideia de como é Stapeley, este bairro onde viémos morar, que é igual a qualquer bairro residencial na periferia de qualquer centro urbano em Inglaterra. Entao, a pensar sobretudo em todos aqueles que tem a felicidade de nao serem arquitectos, deixo aqui uma vista aérea.



Posto (ou postado?) isto, talvez ninguém fique demasiado chocado ao saber que ontem, praticamente dois meses depois de nos termos instalado, consegui perder-me ao voltar a pé para casa. Nao me perdi durante muito tempo: pura e simplesmente virei à direita quando devia ter virado à esquerda, porque nao me apercebi que já estava na minha própria rua, e caminhei cem metros na direcçao errada, até avistar a estrada que delimita o bairro e perceber que era para voltar para trás.
É especialmente confrangedor esse momento em que, perante o olhar dos outros, hesitamos, estacamos o passo, damos meia volta e começamos a andar no sentido contrário àquele em que tao convictamente avançávamos. Tentei disfarçar, levantando um dedo no ar assim numa pose aristocrática, como se me tivesse de repente lembrado de qualquer coisa, que me obrigava a voltar para trás. De orgulho ferido, lá vim remoendo, tentando escamotear a minha responsabilidade no caso.
Em primeiro lugar, a culpa é dos urbanistas, que perderam as réguas e os esquadros, desenham as ruas todas à mao, ou com «cobras» (alguém ainda se lembra?): começam perpendiculares, mas depois ziguezagueiam, tornam-se paralelas, fazem um oito quase perfeito, curvam para o lado oposto e finalmente acabam num impasse, ou voltam ao ponto de partida... Assim, quem é que se orienta?
Em segundo lugar, a culpa é dos arquitectos (será mesmo mais do que um?), que fazem os edifícios todos iguais: a menos que se vá atento a pormenores, nao se distingue uma casa grande de umas moradias geminadas ou em banda, nem mesmo de um pequeno prédio de apartamentos. As portas em madeira todas iguais, as janelas em PVC branco todas iguais, as paredes revestidas a tijolo todas iguais... Houvesse aqui umas Amoreiras, ninguém se perdia!
Em terceiro lugar, a culpa é obviamente destas nuvens: eu sabia que ia para norte, e tenho a certeza de que, mesmo sem pensar nisso, nunca caminharia contra o sol (é verdade, eu ainda me lembro que ele existe)...
Agora ando a matutar nisto: se eles sabem que o clima é este, por que é que insitem neste urbanismo e nesta arquitectura? Já sei que apreciam esta enorme discriçao, este quase anonimato. Mas como é que se guiam? Desenvolveram todos um olfacto apuradíssimo?