quinta-feira, 16 de outubro de 2008

CK

O princípio foi auspicioso, mas os concorrentes eram fracos e ainda havia muito mérito de quem o precedera. Na altura, se bem me lembro, afirmou que ainda nao tinha tido tempo de transmitir todas as suas ideias e prometeu fazer coisas muito bonitas daí para a frente. Agora, presumo que isto já seja o fruto do seu trabalho!? Aqui em Inglaterra nao passou despercebido.
Tem sido um corropio de jornalistas à volta de Alex Ferguson, a perguntarem-lhe como é que conseguiu ganhar o campeonato e a liga dos campeoes, apesar de Carlos Keirós.

PS: perdoem o truque do trocadilho, mas nem sempre é fácil fazer as senhoras interessarem-se pelo futebol.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Silencio



Desculpem este silencio tao prolongado, mas o capacete anda com pouca vontade de brincar aos blogues.
Instalou-se-me um pessimismo aqui nas temporas, à conta desta coisa da recessao, da crise do crédito e da ameaça de bancarrota, da instabilidade das bolsas de valores... Nao me deito sem saber como fechou Nova Iorque, e de manha a primeira coisa que me interessa é a tendencia dos mercados asiáticos. Algo me diz que, ou esta malta sossega toda, ou eu escuso de continuar a mandar currículos e portfolios.
Para espairecer fui até à costa, espreitar o Atlantico. Se a crise veio de lá, talvez também venha a retoma... ou pelo menos o meu bom humor.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O sol e o sal

Setembro foi mes de sol e de sal.
Nao, nao fui a Portugal passar o resto do verao na praia. Foi mesmo aqui em Nantwich, paralelo 53º norte, a 60 quilómetros do mar. O Agosto nublado e chuvoso tinha-nos feito temer pelo resto do ano. Afinal, logo a seguir vieram dias claros. Com a Ana na fábrica e as meninas na escola, soube-me a férias.
O meu programa predilecto, transformado em ritual quase diário, foi a piscina. Nao a interior, morna e desinfectada, preferida por quem vem boiar em grupo ou espernear aleatoriamente, mas a exterior: um tanque fundo e comprido, que é alimentado directamente a partir de uma gélida nascente de água salgada. Coisa de homens. Celtas, de preferencia.

Recomendou-ma o gerente um dia, depois de eu abalroar a segunda velhinha que se atravessou à minha frente. Com um ar meio reprovador, meio solidário, disse-me que a piscina exterior era melhor para serious swimmers. Embora certo de que estavam simplesmente a tentar livrar-se de mim, resolvi experimentar.
É certo que há ali uma dificuldade inicial, que é sair do edifício, vestido só com uma tanga e já todo molhado, quando cá fora estao doze graus e faz vento. Mas isso até torna mais fácil entrar na água, e com as primeiras braçadas recupera-se.
A partir daí, realmente é um prazer: a pista (e às vezes a piscina toda) só para mim, durante horas a fio; a densidade própria da água salgada, tornando quase fácil nadar mariposa; e os cinco metros extra no sentido do comprimento, que correspondem a um treino suplementar de 20%, quase sem dar por isso.
Bom, mas isto nao era para armar em campeao. Phelps há só um, o Bruno e mais nenhum. O que eu queria mesmo contar era da paz, do silencio e do cheiro das árvores em redor. É que o melhor momento do treino é o chamado repouso activo: depois de um pico de esforço, fazer umas piscinas a recuperar, nadando costas clássico, com pernas tipo bruços e braços em simultaneo.
É um movimento ritmado mas relaxante, em que se desliza muito, e de forma suave. Quando os braços passam junto às orelhas, nao é muito correcto, mas sabe bem, deixar a cabeça afundar. Nessa altura, o gozo é deixar a água salgada entrar pela boca e sair pelo nariz, de forma a sentir-lhe o sabor sem a engolir. E manter os olhos bem abertos, para ver, a partir de baixo, os raios de sol entrarem um a um na superfície agitada da água. Muito bom.
Enquanto durou. Dia 1 de Outubro encerraram a piscina, até ao próximo verao. De qualquer modo, a chuva também já voltou...

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

The Height of an Architect

Aí em Portugal, eu era alto. Nao escandalosamente alto, mas suficientemente alto para nao pensar nisso. Estava um bocadinho além da média e portanto olhava ligeiramente de cima para a maior parte das pessoas. Nao me entendam mal: nunca vi nisso qualquer vantagem, tal como nunca pensei que alguém se sentisse em desvantagem perante mim. Simplesmente, habituei-me a que fosse assim. E agora estranho.
Aqui em Inglaterra, eu sou baixo. Nao serei escandalosamente baixo, mas sou suficientemente baixo para pensar nisso. Em rigor, talvez eu até esteja na média, mas isso agora parece-me pouco. Quer dizer, passou a ser muito possível que o meu interlocutor seja mais alto que eu, e confesso que isso me aborrece. Nao a ideia em si, mas a situaçao na prática: custa-me dobrar as cervicais para trás, e quando o faço deixo de conseguir fixar a pessoa franzindo o sobrolho, como costumava. Sinto-me diminuído.
É que nao há volta a dar: por muito que nos tenham ensinado a olhar para o interior das pessoas, é impossível deixar de ter em conta o exterior. Sobretudo aqueles exteriores maiores que o nosso. Um tipo alto mete respeito: a própria Agustina afirmou que tinha votado no Cavaco por causa disso, mas foi na rádio e ninguem estava a ouvir.
Reflectindo neste assunto, dei por mim a constatar que, na minha vida, sempre prestei contas a homens altos: primeiro ao meu pai, depois ao Joao Pedro, depois ao Manel... Claro que foi uma coincidencia, mas começo a pensar se nao devia tomá-lo como regra. Aliás, ainda há uns dias tive uma entrevista promissora em Manchester e já vou recusar o lugar, porque o patrao é baixo demais. À primeira divergencia de índole profissional, ia de certeza levantar-me e perguntar-lhe: «Como é? Queres porrada?».