sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Apelo II

Alguém por acaso comprou (e leu) «O Império», do Gore Vidal?
A minha era uma daquelas ediçoes que vinha com o Público, barata mas com capa dura e umas setecentas páginas... E que eu, apesar desse peso todo, consegui deixar esquecida no combóio! Nao é para estar a armar em intelectual, mas faltava-me pouco para o fim: o John Hay tinha acabado de morrer sonhando com o Lincoln e a Caroline tinha revelado ao amante que era o pai da Emma.
Já agora, gostava de perceber o que é que acontece à senhora, ao seu meio-irmao Blaise e ao Washigton Tribune. Também tenho curiosidade de saber se o Hearst sempre chega a ser nomeado pelos democratas para se candidatar à presidencia, embora da História já saiba que quem ganha é o Roosevelt! Enfim, fico à espera de notícias...

Encarrilar

Desde o princípio desta semana, temos uma vida normal.
Vai para cinco dias inteiros que nesta família nao há ninguém doente nem desempregado (touch wood): a Matilde está na creche, a Sara na escola, a Ana na fábrica e eu no atelier. A nova rotina obrigou a ajustes no horário de toda a gente; mas, passados já quatro meses desde a mudança, é com grande alívio que vemos as coisas finalmente a encarrilar.



Encarrilar é sempre bom, excepto quando se vai de scooter. Perdoar-me-ao os meus amigos da grande concentraçao de Faro, mas, por estes dias, voltei à minha condiçao de motard nao-praticante: descontando o gorro de la com que enfrento o frio pela manha, o único capacete que uso é o telepático. E agora sao os carris (do comboio) que me levam para o trabalho e me trazem para casa.
Mas claro que ainda aprecio ver. Um destes dias, sei lá porque, voltei a lembrar-me do Caro Diario. Como eu gostei desse filme! E ainda nunca tinha andado de lambreta na vida, nem sonhado ter uma...
Aliás, nao resisti à tentaçao de ir à net, para tentar perceber uma ou duas coisas: o filme estreou em 1993 (há quinze anos!) e, de repente, recordei-me que a primeira vez que o vi foi mesmo em Itália, porque estava lá a trabalhar com a minha amiga Daniela Scaminaci, que na altura era também uma trintona desiludida com o Partido Comunista. Ainda na mesma ficha técnica, o filme aparece classificado como Biografia | Comédia | Drama. Para mim, fez-se luz: é exactamente isso que eu gosto num filme, de preferencia servidos indistintamente uns dos outros.
O terceiro capítulo provoca-me suores frios. O segundo faz-me rir a bandeiras despregadas. O primeiro é uma delícia, e eu identifico-me com aquilo do princípio ao fim: desde o deambular arquitectónico, com banda sonora gingona do Leonard Cohen, até à homenagem ao Pasolini, ao som profundo do Keith Jarret e pontapés na bola para o ar. Mas pelo meio, há ainda um episodio um pouco esquecido, que é este:



Eu também gostava de saber dançar. Mas a cena está aqui por outra razao. O post é que já vai longo, por isso deixo aqui a dúvida a pairar... a ver se os meus brilhantes leitores estao atentos, e percebem sozinhos.

PS: «Encarrilar» é que é uma palavra estranha. Mas nao será com certeza «encarrilhar», nem «encarrileirar», que se diz, e muito menos que se escreve. Salvo prova em contrário, aqui no blog vou manter esta grafia, que corresponde a en + carril + ar: a acçao de subir (ou de entrar) para os carris. Nao confundir com «encarilar», que é o mesmo, mas para o caril.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Agora que penso nisso

Foi tudo muito estranho.
O meu dia de anos decorria semelhante a todos os outros: desde manha cedo atendendo os mesmos telefonemas de sempre, da família, dos amigos, dos admiradores e dos principais líderes mundiais (José Sócrates foi dos primeiros a ligar, ainda ofegante da sua meia-maratona-madrugadora).
De repente, entre parabéns e cumprimentos, estava alguém do outro lado da linha (resistirá esta expressao muito mais tempo? há que tentar preservá-la...) a perguntar-me se aceitava um emprego. O ingles era tao perfeito que julguei tratar-se do meu antigo patrao, a gozar comigo desde Lisboa. Mas nao, era mesmo de um atelier de Manchester, para onde tinha enviado o meu portfolio havia um mes e onde tinha sido entrevistado na semana anterior.
«Bonito costume, este de oferecerem empregos às pessoas, pelo seu aniversário!», pensei eu. Que ninguém se ofenda: adorei receber cada um dos presentes que me enviaram, tao atenciosos e personalizados! Mas um emprego era mesmo aquilo de que eu precisava - embora nao o que eu realmente queria, como percebi logo que desliguei o telefone e comecei a antever todas as eminentes mudanças, nos meus hábitos recém-adquiridos... Mas já percebi que nao há salário sem trabalho, por isso aceitei.

Na altura, nao juntei dois mais dois (agora é que estou a juntar, e cá para mim vai dar quatro), mas o meu sogro tinha acabado de vir cá fazer-nos uma visitinha.
Veio por uma semana inteira, alegadamente para matar saudades das miúdas, mas fartou-se de viajar sozinho por Manchester e Liverpool, sempre com uns caderninhos debaixo do braço. E chegou com uma garrafa de Chivas Regal para oferecer ao genro, porque este tinha assumido publicamente que nao bebia whisky enquanto nao tivesse emprego.
Na altura, nao desconfiei de nada. Eu, que também sou pai e amo as minhas filhas acima de tudo, nao suspeitei nem por um segundo. Nunca me ocorreu que o senhor pudesse realmente estar chateado, por saber que a filha pega todos os dias ao serviço numa fábrica de carros e sai para a rua às 7:00 da manha faça frio ou faça chuva, enquanto o marido se dedica à nataçao e ao body-building.
Só agora é que, como se diz por aqui, realizei: o meu sogro veio até cá para me arranjar emprego, de uma vez por todas. Nao sei lá como é que fez, conseguiu.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Apelo


Parece que estao a vender-se poucos destes carros.
Mas a Ana acabou de chegar, e está apenas a trabalhar no futuro modelo, por isso a culpa só pode ser da crise. Aparentemente, os principais clientes seriam mesmo os banqueiros, que faliram, ou que iam falindo e ganharam vergonha (pelo menos deste lado do canal). Sem retoma à vista, os carros começam a amontoar-se nos stands e o futuro começa a ser incerto, para a empresa e para os seus colaboradores.
Mas estes cenários mudam, e até de um momento para o outro. Sabem como é: às vezes, basta uma borboleta bater as asas nao sei onde... É, por isso, com alguma esperança que deixo esta sugestao, aqui no Capacete. Afinal, sao mais de mil visitas, e uma audiencia fiel. Julgo que nao estarei a ser excessivamente optimista se disser que, entre todos, poderao comprar uns dez!?
E por que nao? O natal está à porta, e é tempo de pensar nos outros: talvez fosse o presente certo para realmente surpreender aquela pessoa mais especial, ou para finalmente arrancar um sorriso àquele parente mais carrancudo. Logo depois chega o Ano Novo, e voltamos a pensar só em nós próprios e na nossa Vida Nova: antes que o impulso esmoreça, é ir ao stand e fechar o negócio; normalmente aceitam retomas, podem deixar lá o Porsche e voltar para casa num carro decente.
Está na vossa mao. Nao se retraiam. Nao há nada pior para a economia mundial do que a retracçao do consumo. E nós (desculpem lá, mas) nao queríamos regressar tao cedo.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Efemérides


Como era previsível e a imagem acima já sugere, aqui em Inglaterra nao conseguimos celebrar católica, apostólica e romanamente o Dia de Todos-os-Santos, nem o Dia dos Fiéis Defuntos. Mas a Sara e a Matilde aderiram com entusiasmo ao Halloween, que, afinal de contas e apesar de já nao se notar nada, talvez ainda derive da antiga vigília crista de All Hallowed Eve.
Pouco presas a assuntos teologais, as meninas sairam pela noite fora batendo às portas, na companhia e sob escolta dos nossos amigos brasileiros, que tem uma pirralha de quatro anos e muita cara-de-pau. Voltaram duas horas depois, com os potes a transbordar de doces oferecidos pelos vizinhos, sob coacçao do famoso «Trick or Treating!?». Mais uma vez, este costume é bem semelhante ao nosso Pao-por-Deus, sobretudo na interpretaçao das minhas filhas, que facilmente fazem a cantoria beata parecer uma partida de mau-gosto.
A 5 de Novembro, comemorou-se aqui a Bonfire Night. Festeja-se loucamente o fracasso de uma conspiraçao, que visava assassinar o rei e fazer explodir o parlamento, já lá vao mais de quatro séculos. A celebraçao é um misto de santos populares com magia negra, incluindo o lançamento ao despique de fogo de artifício nos quintais das casas e a incineraçao de uns bonequinhos que representam o cabecilha do grupo, em grandes fogueiras comunitárias, aproveitadas também para assar marshmallows, na ponta de espetos. Apesar do manifesto interesse antropológico, optámos por ver da janela.
O 7 de Novembro é, salvo erro desde 1972, uma das datas mais significativas do calendário portugues. Curiosamente, também já começa a ser comemorado no Reino Unido, embora em festas privadas, apenas acessíveis a certas elites mais informadas.
E hoje foi dia 11 de Novembro. Naturalmente, os portugueses correram a homenagear a generosidade de S. Martinho, empanturrando-se até nao poder mais com castanhas e água-pé. Nao os censuro: eu faria o mesmo se estivesse aí. Aqui o dia é muito diferente. Sob pretexto do armistício da I Grande Guerra (às 11 horas do dia 11 do 11º mes), os ingleses instituíram o Remembrance Day. Lembra-se todos os que perderam a vida nos conflitos deste século e a rainha lidera uma parada oficial em frente ao Cenotaph, em Londres.
Mas as palavras estao gastas, e há monumentos semelhantes um pouco por todo o mundo. Para tentar descrever a dimensao e a intensidade do que aqui se passa, tenho que falar de outras coisas.
Primeiro, que o monumento aos mártires da II Guerra, bem no centro da única praça de Nantwich, me tinha impressionado logo no primeiro dia. Tantos mortos, numa vila assim remota e tao pequena! A dimensao da tragédia só se torna perceptível a esta escala. E os nomes, ordenados por ordem alfabética, arrumados por famílias: nao foram poucas as que perderam duas ou tres pessoas... Irmaos? Sei que há um filme e tudo, mas eu nem imaginar consigo.
Depois, actualizar uma nota antiga que aqui deixei sobre o desfile matinal de alunos fardados: é que, nesta altura, todos trazem na lapela uma contrastante papoila (esta flor simboliza o dia, de acordo com uma tradiçao muito bonita, facilmente investigável na internet), e isso tem o seu que de emocionante. Segundo a BBC, serao mesmo poucos os miúdos desta geraçao que nao tem, efectivamente, um familiar directo perdido numa das guerras.

Enfim, aqui em Inglaterra o 11 de Novembro é um verdadeiro murro no estomago. (E talvez seja por isso que nao há magustos!?)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Irrecusável

Eh lá! Quatro comentários a encorajarem-me a prosseguir com o blogue!?
Pode nao ser exactamente uma vaga de fundo, mas tenho ideia de já ter visto -felizmente ao longe- alguém anunciar a sua candidatura à CML com menos apoios. Eu também só estou nisto para fazer rir as pessoas, mas saio mais em conta.
Gostei especialmente do «bora lá!». Juro. Gramei bué.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Capacete

Ando com vontade de voltar a usar isto...
Mas, para já, estou só a ver se ainda me serve!