terça-feira, 30 de junho de 2009

M.S. perdoado

Sobre a estranha relaçao que os britanicos tem com o resto do mundo, desde a queda do império até à afirmaçao do ingles como lingua universal, passando pelo inegável cosmopolitismo das grandes cidades e pelo surpreendente provincianismo dos nativos, podia escrever-se um blog inteiro.
Neste post, queria só falar de um aspecto particular desse vasto tema, que é a sua total incapacidade para falar uma língua estrangeira.
Embora recentemente as escolas tenham começado a dar preferencia ao espanhol, as pessoas mais velhas (dizem que) aprenderam frances. Ora eu, que já esqueci quase tudo o que sabia, mas ainda guardo da minha mae uma pronuncia digna do Eliseu, farto-me de rir com eles.
Primeiro foi a I.B., coitada, a tentar aconselhar-me a escrever qualquer coisa na frente de um envelope prestes a ser expedido. Como eu nao percebia mesmo, acabou por pegar numa caneta e escrever ela: Par Avion.
Segundo foi o M.G., que é Quiz Master num pub dos arredores, a desafiar-nos: onde é jogado o Open de França em ténis? O J.H., perspicaz, disse Paris; e eu, embora tenha dito tres vezes Roland Garros exactamente como o René Lacoste, juro que nao consegui fazer ninguem compreender que estava a dar a resposta certa.
Terceiro foi o J.W., meu patrao, que quis oferecer-me um prémio de produtividade; mas, nao podendo esticar-se muito em termos pecuniários, propos-me tres dias «in loo». Tres dias «in loo»? Obviamente, pareceu-me despropositado, e pedi que esclarecesse. Afinal, era «in lieu»: «holidays in lieu of money prize». «Uma expressao francesa», explicou, «que aqui usamos para dizer instead of». Procurei fazer-lhe ver que nao havia nada de errado em dizer instead of.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Helmetómetro

Já tinha notado que havia uns dias melhores, outros piores. Mas nao sabia que era possível medir o fenómeno cientificamente. Afinal, um destes dias, ao espreitar a montra de uma dessas lojas de gadgets, reparei num aparelhinho pequeno, que nao resisti a comprar, chamado helmetómetro.
Para além de todas as funçoes normais nos MP4, o helmetómetro indica ainda, numa escala de 0 a 10, qual o grau de integraçao do Capacete no país que o acolhe (vem pré-definido para o UK, mas pode comprar-se o software para outros países). Os primeiros resultados sao contraditórios:

Sensibilidade à precipitaçao atmosférica – 7
É igualzinho ao livro do Astérix. Nao só já nao me chateia nada, como nao corro, e sou muito bem capaz de passear debaixo desta espécie de humidade, que aí no continente chamam chuva.

Reacçao à morte do Michael Jackson – 1
De repente, percebi que aqui toda a gente amava o Jacko. O país está suspenso, à espera do resultado da segunda autópsia. Entretanto, segundo parece, nas tabelas de vendas da próxima semana, os dez discos mais vendidos serao todos dele. Eu nao me comovo: sempre fui fan do outro.

Comportamento em frente às portas – 9
Já deixei de pular em frente às portas que sao para puxar, e faz imenso tempo que nao rebento uma dobradiça, puxando aquelas que devia empurrar. Os comerciantes de Nantwich e o senhor Prior apoiaram-me desde o início e estao muito orgulhosos dos meus progressos.

Acentuaçao de palavras compridas - 3

Logo agora que eu aprendi a dizer catholic pondo a tónica no «a» em vez do «o», parece que dei de caras com mais trinta mil dessas palavras, aparentemente familiares, mas que se acentuam irritantemente ao lado do que parece evidente. A título de exemplo, podem experimentar: proprietary, gravitative e Niagara Falls.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Efemérides 2

Por estranho que pareça, o aniversário da Pmarques nao foi a única grande celebraçao internacional do fim-de-semana (aliás, alguém devia ocupar-se de organizar melhor o calendário, de forma a evitar sobreposiçoes deste género).
Talvez tenham reparado que, logo no dia seguinte, comemorámos o solstício de Verao. Em Stonehenge, pela fresquinha, reuniram-se mais de 36 mil pessoas para assistir ao nascer do sol do dia mais longo do ano.



Diga-se em abono da verdade, desta vez o Capacete nao andava na lua.
Nao vao agora por-se a espalhar a notícia, mas ele lava a loiça à mao. No seu posto de trabalho, tem à frente uma janela que dá para o sol poente, e ao lado um micro-ondas inoxidável, com leds verdes a marcar horas e minutos. Nao havia melhor posiçao para constatar que os dias estavam a crescer.
Aí em Lisboa, várias pessoas nos tinham assustado com o tamanho dos dias, por estas paragens. Acho que todos sofremos desta tendencia para pensar sempre no pior: e realmente, no Inverno, a coisa fica preta (rapidamente). Nao é só a latitude, parece que a longitude também joga a desfavor, devido a nao-sei-que do fuso horário. Mas isto do sistema solar é uma coisa muito equilibradinha e, vai-se a ver, depois há seis meses em que é tudo ao contrário (nao me peçam pormenores, que as minhas memórias do Planetário devem ter sido engolidas por um buraco-negro).
Sei dizer que, agoraqui, o sol agora anda a nascer um bocadinho antes das cinco da manha, e só se poe um poucochinho depois das dez da noite. Mas, mais espantoso que isso, é que nao escurece definitivamente antes das 23:30, e começa a clarear logo pelas 3:30. Estou um bocado fascinado com esta luz boreal e começo mesmo a pensar se, nas próximas férias, em vez do sul, nao rumamos é mais para o norte...

Também no domingo, comemorou-se em quase todo o mundo o dia do pai. É verdade: nao sei se já se tinham apercebido mas, para além do Vaticano (o país com menor indíce de pais/m2 do mundo), só Portugal e Espanha é que o celebram a 19 de Março, no dia de S. José... E é, aliás, uma tradiçao bem bonita, que nunca me passaria pela cabeça contestar: afinal, o marido de Maria encarna na perfeiçao o papel do pai de família (e nao digo mais nada, para nao ser acusado de nada).
Qualquercaminho, no anglo-saxónico mundo, este dia comemora-se por sugestao de uma moça (tinha que ser, nao é?), cujo pai criou sozinho os seus sete filhos, depois da mae ter morrido. Da primeira vez, parece que se festejou mesmo no dia de anos do senhor; depois foi instituído no domingo mais próximo, que é o 3º de Junho.
Isto tudo tao pormenorizado para explicar que, pelos vistos, solstício de Verao e dia do pai no mesmo dia é pura coincidencia. Feliz coincidencia. Já nao me lembro se foi o Sigmund ou a Sátya (mas, a julgar pelo tempo que levo sem falar com a Sátya, deve mesmo ter sido o Sigmund) quem me disse que, na cabeça das crianças há uma associaçao qualquer entre o pai e o astro-rei. Por causa disso, eu sempre me orgulhei muito dos desenhos com enormes sóis respandescentes, que a Sara trazia do infantário. Mas também adorei este, que a Matilde fez na nursery e me ofereceu no domingo. Chama-se «Daddy and I at the beach». Já falta pouco.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Skool Daze

Este ano lectivo está quase a terminar, mas vai ficar na memória de todos nós.
A Matilde é finalista da creche. Fizeram com ela um trabalho extraordinário: entra contente e sai contente, todos os dias; percebe tudo o que lhe dizem e fala sem inibiçoes; come bem, brinca concentrada, faz palhaçadas, cumpre regras; adora as educadoras e é inseparável do seu grupo de amigos.
Recebeu a Maisy para um tea. Foi tomar um tea a casa do Thomas. A mae dele estava um pouco atrapalhada com o irmao mais novo, mas diz que eles nao deram trabalho nenhum. Aparentemente, passaram o tempo todo no jardim, pulando na cama-elástica: um de cada vez, pedindo licença por favor e dizendo obrigado um ao outro de cada vez que trocavam.
A Matilde, preparem-se!, nao é mais a bebé que veio daí. Em Maio começou no ballet. Em Setembro entra na escola oficial. Já tem um uniforme igual ao da Sara e sente-se muito orgulhosa. Na verdade, fica de morrer a rir. As duas estao entusiasmadíssimas com a ideia de serem colegas.
Também a Sara se integrou muito bem: dá-se tanto com os rapazes como com as raparigas, gosta dos professores e das várias disciplinas; destacou-se em Matemática e parece que conseguiu mesmo por-se ao nível dos outros em Ingles.
Aliás, a Sara mantem a sua paixao pela leitura, e agora devora os livros com a mesma velocidade em qualquer das linguas. Nós já passámos a comprar usados e ela já começou a reler os preferidos. No fim-de-semana passado, fizemo-la leitora da biblioteca municipal.
Para nossa maior alegria, concilia essas intelectualices com a prática regular de desporto: aqui aprendeu nataçao, rugby, basketball e cricket (ou muito me engano ou ainda vai ao golf), melhorou muito a bicicleta e os patins em linha. Continua a adorar o ginásio, que aqui tem o atractivo adicional do táxi, da carteira e do telemóvel.
Talvez ainda seja cedo para estas conclusoes, mas acho que os seus níveis de confiança, e até de auto-estima, estao a subir. Parecem mais autónomas, e ao mesmo tempo mais sociáveis. Sentimos que as escolas, para além do ensino propriamente dito, tem realmente um projecto bem estruturado para a formaçao destas pequenas pessoas.

sábado, 20 de junho de 2009

Nhec, nhec...

Algum leitor fiel, que visita o blogue também ao fim-de-semana, em vez de o usar como mero interregno do trabalho, vai ter o privilégio de ser o primeiro a saber afinal o que é o nhec, nhec...

sexta-feira, 19 de junho de 2009

20 de Junho

É quase certo que a aniversariante está na praia.
Mas, mesmo assim, 20 de Junho é dia de festa neste blogue.
Hip-Hip, Hurra!

quinta-feira, 18 de junho de 2009

À deriva?

Um amigo meu foi ver a exhibition, em Londres.
O outro ouviu falar de uma certa exibiçao, em Monsanto.
Ambos concluíram que eu devo estar mesmo a fazer alguma falta.

Fim de tarde

Por estes dias, tenho conduzido pouco.
Normalmente faço-o ao fim-de-semana, transportando a família, a merenda, o rádio, a GPS e os clássicos da Disney em DVD, tudo à molhada, o que nem sempre é uma experiencia relaxante. Estimo muito, por conseguinte, cada um dos quinze minutos de viagem, quando vou sozinho ao fim de certos dias, buscar a Sara ao ginásio de Crewe.
Ultimamente, andava a faze-lo ao som da Nina Simone. Mas na quinta-feira passada, quando carreguei no play, convencido que íamos retomar o momento mágico da véspera, o Fungagá da Bicharada tomou-me o carro de assalto. Obviamente, a Matilde tinha conseguido impor o seu gosto, na curta viagem da creche para casa.
Ora, aqui, é muito mais difícil trocar um CD em andamento, porque a mao que fica livre para vasculhar as bolsinhas de plástico é a esquerda (eu acho). Dadas as dificuldades do momento, contentei-me com a antologia da Elis que me apareceu à frente, e que já nao ouvia há meses.
Saltei umas quantas músicas (há ali algumas ao princípio que, na verdade, ainda podiam ser do Barata-Moura), até encontrar aquela sequencia mais famosa: Atrás da Porta, Fascinaçao, Me Deixas Louca, Tatuagem, Dois pra Lá Dois pra Cá.... Eu sei que me emociono com alguma facilidade, mas esta Pimentinha exagera.

Já a meio da viagem, e depois de uma pequena introduçao instrumental, ela arrancou, naquela voz simultaneamente arrastada e cristalina: «Eu quero uma casa no campo, do tamanho ideal...» Ora, este verso (os mais próximos lembrar-se-ao) foi aquele que me entrou no ouvido e afixou no cerebelo, de modo que nao conseguia parar de repeti-lo, durante as semanas que antecederam a nossa partida, assim como que a dar o mote para a mudança de vida. Mas, nessa altura, eu estava longe de adivinhar quao certeira era a frasezinha.
Com a música por fundo, espraiei o olhar em redor. Viémos mesmo parar ao campo. E que bonito é: cultivado, planeado, fértil, rico, civilizado. A estrada serpenteia deliciosamente por entre os verdes, e a gente segue nela de janelas totalmente abertas, sem qualquer tipo de sobressalto.
O dia tinha estado maravilhoso. Um verao como eu sempre achei que ele devia ser: o sol bem descoberto, aquecendo mas sem queimar; de vez em quando uma brisa freca; a humidade do dia anterior nas folhas, a lembrar que talvez ainda chova um bocadinho, mais tarde. Tudo certo, tudo no sítio.
Só que depois a Elis chegou lá a um verso, ao qual eu nunca tinha dado muita atençao, que diz: «...onde eu possa plantar meus amigos, meus discos, meus livros e nada mais!». Os discos e os livros, ainda vá. Mas os amigos é que nao estou mesmo a ver maneira de trazer daí para aqui... Bateu uma saudade, né?

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Geography

A semana passada, no críquete (imagino que nao tenham sabido), a Inglaterra perdeu com a África do Sul. No dia seguinte, no comboio, um miúdo perguntava à mae onde era a África do Sul, e se ainda iam jogar com a África e com a África do Norte.
A mae explicou-lhe que nao há África do Norte. E que África é um continente, composto por vários países, um dos quais chamado África do Sul. Fez uma pausa. E acrescentou: da mesma forma que a Inglaterra faz parte... do Reino Unido.

É assim! Aqui (talvez por aí se tenha comentado), as últimas eleiçoes europeias registaram a mais alta taxa de abstençao de sempre. E a extrema-direita, que defende a retirada da UE, até elegeu pela primeira vez dois deputados, um dos quais por Manchester. Nao sei se por causa disso, o coisinho já se pos a milhas (isso sabem com certeza).

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Nhec, nhec...

Já o diziam os romanos com muita razao: às vezes, bastam uns escassos segundos para transformar a glória completa no fracasso total. Outras vezes, sao precisos quinze dias, mas o resultado é igual. Isto sao liçoes que nos dá a vida; ou, quando nao ela, o futebol.



No dia em que aqui veio jogar o FCP (quem está espantado com o atraso deste post, ainda vai ler um sobre o Natal de 2008), o Capacete esteve lá. Embora nao tenha sido fácil, convenci o meu colega B. (um daqueles tripeiros viajados, que acham que melhor do que o Porto só Mendrisio) a trocar o pub pelo estádio, aproveitando os lugares cativos de uns amigos ausentes.
Entrámos clandestinos, e ao princípio mantivemo-nos discretos. Mas os dragoes tiveram uma entrada fantástica, e eu comecei a nao conseguir manter o rabo sentado, de cada vez que a bola razava a baliza do van der Sar. Quando entrou mesmo, o estádio inteiro gelou. Eu pus-me em pé num pulo, simulei um upper-cut na atmosfera e gritei: «Golo!»
Apesar do meu cuidado em falar portugues, as pessoas à volta perceberam; o meu amigo recusou o meu abraço, e instalou-se um certo desconforto entre todos. Nada que nao se dissipasse com o decorrer do jogo, porque o que era previsível aconteceu: os portugueses nao conseguiram manter o ritmo, e os ingleses deram a volta ao resultado.
Já se cantavam hinos de vitória (uma linda adaptaçao de «Gloria, gloria, Aleluia!» para «Gloria, gloria, Man United!») e eu tinha recuperado o meu discernimento habitual (muito mais depressa do que em 1987), quando um golo fortuito de outro sul-americano (que, ao contrário do primeiro, por acaso nao é produto das escolas do SLB) voltou a empatar o jogo.
Verdade seja dita, o fair play da assistencia aguentou o golpe. No fim do jogo, todos concordámos que o resultado era justo. A equipa do Porto disputou o jogo, provou que podia vencer a eliminatória, e saiu do relvado debaixo de palmas, muito mais respeitada do que entrara. Também nós saímos orgulhosos, e indisfarçavelmente bem dispostos. O grande evento tinha superado todas as nossas expectativas; a noite estava amena; as coisas começavam a serenar e já nada parecia poder correr mal. Eram 21:30.

Caminhámos calmamente com a multidao, comentando as incidencias do jogo, até à estaçao do Tram, que nos levaria de novo ao centro da cidade. Nao corremos para o primeiro que passou, porque nos pareceu demasiado cheio. O segundo chegou pontualmente dez minutos depois e deixou-nos em St Peter’s Square, passado um quarto de hora. Seguimos devagar pela Mosley Street acima, parando no Tesco para carregar um telemóvel, e chegámos a Piccadilly Garden.
Subimos até casa do B., onde eu tinha deixado a minha mochila quando saí do atelier. Apresentou-me o seu colega de apartamento, esteve a mostrar-me as monografias de arquitectos que compra em Londres, mais a prosa portuguesa e a poesia inglesa que anda a ler (coisas de solteiros, sem menores a seu cargo). Aquilo era tudo muito interessante, mas eu nao estava inteiramente descansado, porque me tinha esquecido de verificar os horários dos comboios, e propus que continuássemos a conversar a caminho da estaçao.
Lá fomos. Quando chegámos, eram 22:50 e eu nunca tinha visto a gare tao vazia. O último comboio para Nantwich tinha partido havia 15 minutos. Sem entrar em panico, perguntei pelo próximo para Crewe. Crewe (já disse noutro post, mas ainda hei-de explicar melhor) é o entroncamento cá do sítio. A terra é pequena, mas fica no cruzamento de muitas linhas, e a estaçao é das mais movimentadas do país. Em Inglaterra, há sempre um comboio para Crewe: seja de onde for, seja a que horas for.
Excepto, claro, se estiverem a fazer obras de manutençao nos carris! Para minha sorte, estava prestes a sair um em direcçao a Stockport, de onde me garantiram que havia ligaçao de autocarro para Crewe. Despedi-me do meu amigo e subi para a carruagem; cheguei lá às 23:05 (Stockport, embora soe bem, é uma periferia pouco qualificada de Manchester). Vacinado, desta vez corri do comboio para o terminal, onde já havia gente a entrar para o autocarro.
Corri, mas nao precisava de ter corrido. Aquele era o autocarro que ia para norte, e eu queria ir para sul. O meu autocarro era às 00.10. Voltei para dentro, porque estava a começar a fazer frio e a chuviscar. A sala de espera tinha apenas tres cadeiras; mas eram suficientes, porque só havia dois homens à espera. Naturalmente, a cadeira do meio é que estava livre. A contragosto, lá me sentei entre eles e abri um dos livros que o B. me tinha emprestado. Passou um rapaz com a camisola do Manchester United; por essa altura, eu já estava quase arrependido de ter ido ao jogo. Depois os meus vizinhos, que afinal se conheciam, voltaram-se para mim e começaram a falar entre si. Qual Cristo na cruz, levantei os olhos ao céu e chorei pelo meu Papá.
Felizmente nao estava pregado, e assim que vi uns faróis a dar a curva lá fora, saí. Fui o primeiro a entrar no autocarro e sentei-me bem à frente, fazendo pressao psicológica no chauffer. Mas isso nao o fez sair dali mais cedo, nem carregar mais no acelerador. Apanhou toda a gente, parou em todo o lado, e a viagem, que de comboio dura meia-hora, demorou exactamente duas horas e dez minutos!

Quando chegámos a Crewe, eram 02:20. As poucas pessoas que vinham comigo tinham boleia à espera, ou desapareceram no escuro. Eu caminhei até à entrada da estaçao de comboios; para meu grande espanto, estava fechada. Achei que era 24/7, mas afinal nao: sete chaves e luz apagada. Naturalmente, nao havia nem um táxi na paragem, que costuma estar repleta. Por acaso, dos tempos em que ainda nao tínhamos conseguido comprar o carro, eu guardei no telemóvel os números de telefone das empresas de taxi aqui da zona. Liguei para a primeira, nada. Liguei para a segunda, nada.
De Crewe a Nantwich devem ser umas 6 milhas e eu comecei a achar que ia ficar a conhece-las mesmo bem. Mas à terceira foi de vez. A chamada foi reencaminhada da central directamente para o taxista, porque era o único que andava a fazer aquele turno. Explicou que estava um bocado longe, mas conseguia apanhar-me dentro de meia hora. Aceitei sem pestanejar. Depois seriam apenas mais quinze minutos de viagem e estaria em casa. Com sorte, ainda conseguiria dormir quatro horas, antes de me levantar para ir trabalhar.
A estaçao de Crewe nunca foi propriamente um terminal, e talvez por isso seja longe do centro. Nao passavam carros, nao se via ninguém. A frente do edifício dá para uma ponte (que os comboios cruzam por baixo), ligeiramente sobreelevada. Apesar de ter uma pala, é um sítio desabrigado. A chuva nao era intensa, mas vinha batida a vento e estava imenso frio. De casaco apertado e maos enterradas nos bolsos, comecei a andar de um lado para outro, só para me manter quente.
A certa altura, sem que entendesse de onde vinha, escutei um ruído estranho: nhec, nhec... Sobressaltado, olhei à volta. Nao via nada, mas continuava a ouvir: nhec, nhec... A penumbra e o nevoeiro resistiam, entre os focos dos candeeiros demasiado espaçados, impedindo-me de perceber o que seria. E, no entanto, o som era cada vez mais distinto. O que quer que fosse, aproximava-se: nhec, nhec...

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Ocasiao

Afinal, ainda há umas coisas daquela lista que sao para sair:

1 - O tapete: 170x240cm (de memória), cor-de-vinho (tinto alentejano), pelo médio. IKEA

2 - O aparador: 110x40x50cm (de memória), vermelho (SLB), duas portas e uma prateleira, construçao metélica. IKEA

3 - O "passarao": puf modelo infantil, grande e fofinho, um bocado desajeitado mas com sentido de humor (foi presente de baptismo da Sara, os meus amigos que me perdoem!)

Se derem jeito a alguém, estao disponiveis para empréstimo de longa duraçao. Os contactos sao privados, mas as pessoas de confiança tem-nos.