sábado, 21 de agosto de 2010

Ainda há cavalheiros

Coisas destas fazem ressuscitar um blog.

De Piccadilly Gardens para a estaçao de comboios de Manchester Piccadilly sao cinco minutos a pé. É uma rua ligeiramente inclinada, com um passeio larguíssimo: talvez uns oito metros.

Ora, às sextas-feiras pelas 17:30, (voces podem imaginar) esse passeio enche-se com uma multidao compacta que caminha em sentido único, passo esticado para apanhar o comboio. Se estiver a chover, entao, a pressa duplica e quase ninguém tira os olhos do chao.

Causa por isso alguma estranheza ver ao longe um negro caribenho, alto e magro, com roupas largas coloridas e uma carapinha saltitante, a correr aos ziguezagues, no sentido oposto a toda a gente. Ao aproximar-se, percebo finalmente que persegue um balao amarelo, trazido pelo vento. Cruzo-me com ele, sem tempo a perder, mas com um sentimento de solidariedade: «É isto ser pai».

Uns passos mais à frente, vejo a mae parada, a segurar um carrinho, com o menino de tres anos pela mao: ela sorri, ele já enxuga as lágrimas. Antes de passar por eles, ainda sou ultrapassado pelo herói, e vejo-o a entregar-lhes o balao, com uma vénia. E, para meu espanto, vejo que logo de seguida se separam: mae e filho entram numa loja; ele retoma o seu caminho, em direcçao à estaçao, como toda a gente. Afinal nao era o pai, era um cavalheiro.