sexta-feira, 8 de abril de 2011

Ainda há-de vir o dia

em que teremos saudades de Sócrates. Serao momentos como este que vao perdurar na nossa memória.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Apelo

O Michael Shepherd e eu andamos a jogar no Euromilhoes todas as semanas desde o início do ano, e até agora ainda nao nos saiu o Jackpot.
A coisa é tanto mais escandalosa quanto sabemos, de fonte segura, que a nossa aposta fica registada informaticamente nos computadores da entidade responsável pelo concurso, muitas vezes com antecedencia de vários dias em relaçao ao sorteio, e portanto pareceria relativamente fácil atribuirem-nos o prémio.
Mas nem sequer se pode dizer que estejam a fazer um esforço: nao é que falhem por um número ou dois, o que, embora difícil de aceitar, podíamos compreender, porque ninguém é infalível e um lapso desses acontece até aos profissionais mais competentes. Nao, eles ignoram ostensivamente a nossa chave, e só por mero acidente fazem sair um dos nossos números, nunca dois na mesma semana.
Isto, em nosso entender, configura um caso de recorrente e inadmissível abuso de poder, que precisa de ser denunciado. Antes de o fazer, contudo, vamos escrever à administraçao da empresa, dando-lhes uma hipótese de se retractarem. Exigiremos a atribuiçao do primeiro prémio, a título de compensaçao por legítimas expectativas defraudadas, no prazo máximo de um mes (ou quatro sorteios, conforme o que suceder mais cedo) após a recepçao da nossa carta.
Eu até achava que devíamos requere-lo imediatamente. Mas o Michael fez-me ver que isso nao seria razoável, dado que eles naturalmente terao já compromissos assumidos com outros apostadores para as próximas datas. Diz que perderíamos credibilidade se insistíssemos em fazer valer os nossos direitos à custa dos direitos de outras pessoas. Ele é muito british.
Caso insista no incumprimento, nao nos restará outra alternativa senao accionar judicialmente a empresa. Já explicámos toda esta situaçao a um advogado, e estamos convencidos de que, na pior das hipóteses, conseguiremos a restituiçao do montante investido desde o início do ano. Nao que seja muito, mas é uma questao de princípio.
Para dar mais força à nossa reclamaçao, estamos interessados em recolher testemunhos de outras pessoas a quem o mesmo tenha eventualmente sucedido. Se souberem de algum caso, por favor peçam às pessoas visadas que  entrem em contacto comigo (vou precisar das datas concretas, e também seria bom recolher os taloes nao premiados, caso ainda os tenham consigo). Por favor reencaminhem esta mensagem para os vossos amigos e conhecidos.

De génio

O Jorge Jesus percebeu que, esta época, a única hipótese que tinha de arreliar um bocadinho os portistas era impedi-los de conquistar o campeonato num jogo em casa. Tenho cá para mim que ele já tinha delineado este plano há uns bons meses, e cumpriu-o na perfeiçao.

sábado, 2 de abril de 2011

Gostos nao se discutem

Pode até parecer paradoxal, mas agora que a crise se instalou é que eu comecei a reparar, a interessar-me, a ter uma opiniao sobre as tendencias da moda em roupas para crianças e bebés.
Os meus preferidos sao as calças de pernas longas e as camisolas de mangas compridas, enroladas para cima até aos tornozelos e aos pulsos, com tres ou quatro dobras de 15 cm.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Como é que isto se explica ao bebé?

Miguel, lembras-te daquela coisa preta no pulso do papá que tu estás sempre a agarrar? Isso é um relógio. No fim-de-semana passado, o relógio adiantou-se uma hora: à uma da manha, passaram a ser duas da manha. Nao precisas de saber por que, é uma coisa que os grandes combinam entre eles.
Ora bem, se à uma passaram a ser duas, às sete passaram a ser oito. Ou seja, se, na semana passada, tu te levantavas às 7:00, seria apenas natural que mantivesses o teu ritmo e, nesta semana, te levantasses apenas às 8:00. Acredita, ninguém te recriminaria. Mas, como já percebemos que és um rapaz cumpridor, também nao estranharíamos que tivesses feito o esforço de assimilar a alteraçao: podias continuar a levantar-te às 7:00 porque, bem vistas as coisas, é a hora a que os papás se levantam.
Mas, Miguel, nao há razao nenhuma para te levantares às 6:00! Por que é que esta semana tu te levantaste todos os dias às seis em ponto? Nao há mesmo necessidade. Foi alguma coisa que tu nao percebeste, Miguel. Eu explico-te outra vez, que temos tempo...
Estás a ver esta coisa preta aqui no meu pulso?  

terça-feira, 29 de março de 2011

Eleiçoes

Ainda nao percebi afinal quem é que ganhou.
Mas fiquei satisfeito de saber que nao foi o outro, porque tínhamos planeado aproveitar a próxima estadia em Portugal para irmos finalmente visitar a Casa das Histórias Paula Rego (nem de propósito), e estava-me a custar saber que nessa altura já o Sporting ia ter um departamento chines para receber uma comissao sobre as entradas nos museus.

domingo, 27 de março de 2011

Manas

A Sara entrou definitivamente na adolescencia e perdeu-se para qualquer tipo de contacto social nos anos mais próximos.
A Matilde, que vinha desabrochando na sua sombra, tem agora a oportunidade de ocupar o palco central. Mas hesita. Se, por um lado, lhe agrada mostrar-se crescida e capaz, por outro ve-se que lhe custa entregar assim de mao beijada o estatuto de benjamim da família ao menino Miguel.
Um dilema! A que se junta ainda a hipótese, também atraente, de emparceirar com a irma mais velha, entrando ela própria numa espécie de precocíssima idade do armário. Da Matilde, portanto, cá em casa nunca ninguém sabe muito bem o que esperar.
Uma destas noites depois do jantar, durante o meu habitual exercício de step entre o caos que fica na sala e na cozinha e o caos que se instala lá em cima, parei no piso do meio. As manas estavam enfiadas no quarto, com a porta encostada.
- Oh meninas! Está quase na hora de ir para a cama. Toca a lavar os dentes e a fazer xi-xi!
A Matilde foi logo. A Sara pediu "só um segundo", porque estava mesmo a acabar (ou no meio, ou a começar) qualquer coisa. Subi e desci mais duas ou tres vezes. Estas coisas fazem-se em piloto automático. Nao sei quanto tempo demorei, nem em cima nem em baixo. Mas pareceu-me pouco e nao me apercebi de mais movimento na casa de banho. De modo que entrei no quarto delas e perguntei de chofre:
- Oh Sara, afinal quando é que tu vais lavar os dentes?
Muito ofendida, a Sara respondeu-me que já os tinha lavado. Mas estava com dificuldade em convencer-me. Já em desespero de causa, voltou-se para a Matilde, pedindo-lhe que comprovasse a sua história.
- Lavei! Nao lavei, Matilde? Diz ao pai, Matilde! Diz ao pai, se eu nao lavei os dentes!?
A situaçao nao me agradava nada. Eu tinha cá as minhas maneiras de resolver este assunto: ou acreditar nela, ou fingir que acreditava nela, ou cheirar-lhe o hálito se quiser pregar-lhe um susto, ou mandá-la lavá-los outra vez para ficarem mais bem lavados. Mas hesitei um segundo. Um segundo em que o suspense cresceu. A Matilde tinha uma oportunidade. A Sara nunca lhe perdoaria se mentisse. Eu nem queria saber a verdade, só estava curioso de saber como é que aquilo ia acabar.
A Matilde continuava de olhos pregados no chao. Depois fixou-os na Sara. Outra vez para o chao. A seguir para mim. Depois rodou-os para o tecto e disse com voz baixinha, como quem faz um comentário aparte:
- Ela nao fez xi-xi...

sábado, 19 de março de 2011

Umbiguismos

Este blogger nunca se gabou da sua audiencia. Em primeiro, porque nunca confundiria quantidade com qualidade. Em segundo, porque nao tem audiencia.
"Audiencia"!? Mas que nome mais parvo, para os dias que correm. Proponho já aqui que adoptemos antes o termo "onlinencia" para o grupo de leitores de um blog. Vamos a ver se a moda pega.
Nunca me gabar nao significa, no entanto, que nao me interesse. O Joao Caria até me instalou nao-sei-o-que, que me manda um email todas as semanas a dizer quantas visitas teve o blog. Nao que eu precisasse, porque eu sei muito bem quem é que aqui vem: a Arnage, a Joana, a Pmarques e a Rantanplan (nestas coisas, nada como a ordem alfabética); e, claro, também o Bu, que mais ou menos uma vez por mes se cansa do site da CMVM.
Mas eu, que até há bem pouco tempo só sabia escrever posts, apercebi-me entretanto que tenho no blog todo um mundo de definiçoes, opçoes e formataçoes à minha disposiçao. Naturalmente, ainda nao dispus de nada, nem vou dispor. Mas de vez em quando consulto a páginas das estatísticas, onde posso ficar a saber nao só quantas visitas teve o blog, como também em que dias e a que horas e durante quanto tempo, a partir de que país, ou até - interessantíssimo - quais sao os browsers e os sistemas operativos do visitantes. Pois é, Big Brother is watching you.


Nao sei lá por que, fascina-me aquele planisfério. Como podem ver, o mundo começa por ser todo branquinho. Depois, à medida que surgem visitantes, daqui e dali, vai-se progressivamente colorindo o respectivo país, adensando-se o tom de verde. Portugal e o Reino Unido aparecem sempre bem garridos: o primeiro, com certeza devido à concentraçao de leitores (e ainda por cima sportinguistas); o segundo, graças às minhas frequentes reentradas no blog, só para corrigir a pontuaçao dos posts, mesmo que publicados há vários meses (e ainda sem nenhuma notícia da Academia Sueca).
Curiosamente, a estatística regista todas as semanas alguma onlinencia noutros países. Os meus preferidos sao os mais grandes: porque aparentemente alguém visita o blog a partir dos Estados Unidos (cá para mim, é um açoreano a gamar a net da Base das Lajes), pinta-se logo aquela terra toda, e nem sequer se esquecem do Alasca. E se nesse mes, por engano, aqui entra alguém do Canadá ou da Rússia, é quase um terço do planeta que fica sob a minha alçada telepática.
Ora, contando eu os meus leitores pelos dedos de uma mao, e sabendo permanentemente do paradeiro de quatro deles, ainda pensei durante algum tempo que era a Joana que se fartava de viajar. Mas depois percebi que era impossível: nem o Phileas Fogg esteve em tanto lado em tao pouco tempo... Isto é, obviamente, uma artimanha da Microsoft para ir mantendo os bloggers animados.
Agora, desta vez, excederam-se. Se repararem bem na imagem acima, garantem-me que durante a semana passada houve 4 visitantes do Japao. Do Japao, na semana passada! Imaginem: como se nao lhes bastasse um terramoto, um tsunami e um acidente nuclear, ainda iam ver o meu blog. Diz-se que uma desgraça nunca vem só, mas isso já era exagerar.

sexta-feira, 18 de março de 2011

É a crise

Com a crise, implementaram lá no atelier cortes de salários. É tramado.
Com cortes no meu salário, a Ana vai ter que voltar a trabalhar. É tramado.
Com a Ana a trabalhar, o Miguel vai ter que ir para a creche. É tramado.
Com o Miguel na creche, os pais vao ter que pagar a mensalidade. É tramado.
Enfim, tudo isto é tramado, mas também nao é nenhuma crise: é a vida! Agora crise, mas crise a valer, vai ser lá no Sunflowers, quando descobrirem o apetite do Miguelinho... É que nao há mensalidade que lhes cubra o prejuízo!

quinta-feira, 10 de março de 2011

Só um

Só um post sobre o Benfica. Prometo que nao volto a falar deles, nem que ganhem a taça Uefa.
É verdade que, este ano, o Jorge Jesus terá cometido alguns erros e demorou a acertar com a equipa. É certo e indiscutível, por exemplo, que o FCP será o justíssimo vencedor do campeonato.
Mas o Benfica está a dar espectáculo. Hoje vi um bocadinho do jogo com o PSG. A tentar recuperar da desvantagem, as movimentaçoes atacantes da equipa eram tao frenéticas como bem estruturadas. E, ao contrário do que dizem as más línguas, nao me pareceu que dependessem exclusivamente dos avançados argentinos emprestados. Alguém reparou, quando o defesa direito surge no interior da área adversária para receber o passe do médio e marcar o golo do empate, quem é o outro jogador do Benfica que aparece como uma flecha, para tentar uma eventual recarga? Pois é... é o defesa esquerdo!
Isto, Pep, é o futebol total.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Sócrates e Merkel

Ó Angela, 'tá bem que nós ainda nao controlámos o coiso, mas olhe que isto agora das qualificaçoes académicas do seu ministro também é uma barracada dos diabos, hä?

Síndrome de Secretário

Se tudo correr como previsto, a obra que eu estou a acompanhar estará terminada em meados de Junho, bem a tempo do começo do próximo ano lectivo. Passámos o ponto crítico: toda a informaçao está finalmente nas maos do Empreiteiro e só nos resta acompanhar a execuçao dos trabalhos, esclarecendo dúvidas pontuais.
A obra está agora na fase de acabamentos, ou "limpos", para usar o jargao arquitectónico. Instala-se a fachada cortina, começam a perceber-se os alinhamentos do betao, revestem-se os toscos com superfícies desempenadas, deixam-se à vista as ligaçoes metálicas mais elegantes, montam-se as carpintarias... Até a alheta parece que vai bater no sítio certo e fazer a tao necessária linha de sombra! Isto é uma emoçao.
Por isso se torna especialmente frustante saber que o Cliente já pediu ao meu patrao um projecto de alteraçoes. Reparem que ele nao quer umas alteraçoes ao projecto: isso já todos estamos habituados e damos de barato. Nao, o que ele quer é que comecemos um projecto para alterar o edifício que ainda nao acabámos de construir!
Eu hoje só me conseguia lembrar do Secretário. Também me apeteceu correr pelos corredores, bater com a cabeça nas paredes, esmurrar portas e gritar: "Deixem-me acabar, c*#@%! Eu ainda nao acabei, c*#@%!"     

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Pode atestar, por favor?

O Miguel come cá de uma maneira, fico a pensar a quem é que sairá (aliás, já a Sara era assim e nunca cheguei a uma conclusao).
Agora que nao há pediatras para atrapalhar, a dieta do menino está inteiramente confiada ao instinto maternal e à internet. A Ana seguiu o conselho do site mais audaz - curiosamente patrocinado pela Milupa - e começou a dar-lhe sólidos ao 4º mes. Mais precisamente, no dia em que fez quatro meses. E só nao foi na hora em que fez quatro meses porque às cinco e meia da manha ainda é preferível dar maminha - safou-se com uma a mais, mas com certeza ouvirá falar dela mais tarde.
Raiou o sol na janela da cozinha e já a mae sorria, com uma taça fumegando numa mao e uma colher de plástico na outra. «Abra a boca, bebé!» O Miguel abriu, e comeu tudo. Mas claro que era papa. A papa é doce. Qual é o bebé que nao gosta de papa? De modo que, quando ele fez quatro meses e oito horas, a mae experimentou uma sopa. O Miguel comeu tudo. Mas era um sopa docinha. Qual é o bebé que nao gosta de sopa de cenoura?
Desse dia até hoje, passaram quase dois meses e as doses tem vindo sempre a aumentar. Da prateleira das papas do Morrissons, já só lhe falta experimentar prawn cocktail. A sopa agora leva os legumes todos, carne e fé-em-Deus. Para nao ficar com boca de lacaio, no fim há sempre fruta. Começou com pera cozida, depois banana esmagada (haviam de ver a sua cara de afliçao ao perceber que as cascas vao para o lixo). Quando passou para a pera crua, imaginem o requinte, até vieram de Loures duas peras Rocha, especialmente criadas pelos avós no ramo de cima da árvore, voltadas para o sol meridional. O Miguel adorou. Mas, verdade seja dita, no dia seguinte adorou igualmente as que se vendem aqui no supermercado, amadurecidas dentro de um contentor frigorífico num porao algures a meio do Canal da Mancha.
Ele quer quer lá saber se a comida é doce ou nao! Depois da pera Rocha e da pera Conference, ele já vai na pera-abacate... E, só para o caso de estarem a lembrar-se da vossa última ida à Casa México e a pensar que pera-abacate até que é bom, deixem-me esclarecer: bom é guacamole. Guacamole sabe a tomate, cebola, cebolinho, alho, azeite, coentros, limao, malagueta e sal - a tudo, menos à pera-abacate, que só está lá para dar cor e consistencia. Para perceberem o que é que o Miguel anda a comer, terao que descascar uma pera-abacate madura, desfaze-la com a ponta de um garfo e po-la na boca. Nao, nao vale usar tiras de milho em vez de colher, nem empurrar com Coronas ou Margaritas... embora já nao deva faltar muito!

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Olha!

Um dos portugueses evacuados da Líbia num C-130 da Força Aérea foi o meu ex-colega de faculdade José Casaleiro. E eu que às vezes me interrogo se fiz bem em vir para Inglaterra...

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A segunda pedra

Agora que alguém já atirou a primeira, deixem-me dizer-vos que também a mim, mesmo a estes quilómetros todos de distancia, me irritaram bastante os deolindos.
Nao querendo que percam demasiado tempo com outros blogues, sempre acho que vale a pena ler o post. Concordo com tudo o que a senhora diz (um bom hábito aprendido cá em casa). Mas ainda queria acrescentar, exclusivamente da minha lavra, dois motivos de irritaçao: o primeiro, uma questao de forma; o segundo, de substancia.
É impressao minha ou, lá no hino deles, há um verso que diz "e ainda me falta o carro pagar"? Isto, a meu ver, é muito mau. Chutar assim para o fim das frases os verbos postos no infinitivo, de forma a rimarem uns com os outros, é uma espécie de grau zero da poesia em língua portuguesa, e devia ser proibido a qualquer aspirante, logo a partir do fim da quarta classe. Ainda por cima, dizem que é música de intervençao. Eu nao é para armar em chato, mas desconfio um pouco das capacidades deste trovador para escapar ao lápis azul, usando metáforas e outros recursos estilísticos assim... bué subtis.
Agora a mensagem de fundo da cançao, devidamente matraqueada no refrao, é este suposto paradoxo de hoje em dia, em que para ser escravo é preciso estudar! A ideia é que se trata de uma geraçao duplamente penalizada: nao só tiveram que estudar, como agora tem uns empregos com poucas condicoes. Um enorme sacrifício que nao os poupou a um imenso martírio. Adianta dizer alguma coisa a esta gente? Assim, por exemplo, que estudar é um privilégio, e até mesmo um prazer, que se justifica por si só? E que sim, que talvez um salário mais magro ou uma carreira mais atribulada possam ser preços justos a pagar para lhe aceder? Apetecia-me dizer-lhes isto, mas nao vou faze-lo, porque provavelmente me respondiam: "que parvo que tu és!"

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Flores

Instala-se a crise, e todos nós tentamos identificar despesas supérfluas nos extractos bancários. Flores, por exemplo, podem facilmente ser consideradas um luxo, sobretudo atendendo à efemeridade do seu esplendor. E, no entanto, parece que, entre os típicos presentes de S. Valentim, as flores sao o que há de mais barato. E duradouro.

Flores

Conta a minha mae que, de uma vez em que eu era miúdo e fiquei de cama com febres altas por causa do sarampo, respondia sempre «Flores!» a qualquer coisa que me perguntassem. Ainda hoje nao sei de onde veio essa fixacao, mas teria muito mais a explicar se lhe tivesse falado em champanhe ou em preservativos.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

S. Valentim

É verdade que eu sou um moralista serodio, e com certeza a coincidencia dos nomes tambem nao faz de mim um tipo particularmente romantico, nem sequer minimamente entendido no assunto. Talvez por isso este meu pasmo, ao saber que os artigos que registam aumentos de venda nesta epoca sao:
1 – Flores
2 – Champanhe
3 – Preservativos

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Round I

Terminou o primeiro round do combate entre nós e o Consulado de Portugal.
Nao os levámos ao tapete, mas marcámos bastantes pontos: conseguimos inscrever a família toda, registámos o nascimento do Miguel e, hoje, fui lá buscar o seu Cartao do Cidadao.
Este último, que parece de todos o acto mais simples, nao o foi propriamente. O Cartao do Cidadao só pode ser levantado pelo próprio. Caso nao possa levantá-lo, por motivo de força maior, o próprio terá que passar uma declaraçao, autorizando um terceiro a faze-lo em seu nome. Caso o próprio nao possa passar essa declaraçao, por motivo de força maior como por exemplo nao saber escrever, terá que pedir a um terceiro que a redija por si. Caso o próprio nao possa assinar a declaraçao escrita por outrém em seu nome, por motivo de força maior como por exemplo ter tres meses de idade e portanto nao saber assinar nem sequer fazer uma cruzinha sem meter a ponta da caneta para dentro, deve tal facto ser mencionado no espaço reservado à assinatura do declarante. Por forma a validar a declaraçao, será entao forçoso que o detentor do poder paternal confirme a autenticidade do documento - acto que nao deve ser confundido com a outorga da autorizaçao, que é para todos os efeitos da responsabilidade do menor -, assinando-o ele próprio. Tudo isto deve naturalmente ser feito em duplicado, no acto do requerimento do Cartao, perante as autoridades competentes, de forma a dispensar o reconhecimento notarial de assinaturas.
Para levantar o Cartao do Cidadao de um terceiro (que, no caso em apreço, foi acima referido como sendo o próprio), basta entao que um cidadao se dirija aos serviços pelos quais o terceiro foi notificado por via postal, munido da referida notificaçao e da declaraçao de autorizaçao anteriormente descrita, e faça prova de identidade, designadamente exibindo o seu próprio documento identificativo, válido e correspondente ao mencionado na declaraçao de que é portador. A lei é para cumprir.

Quando cheguei a casa entreguei o cartao ao próprio, que tratou logo de o meter logo à boca. Para seu azar, a mae estava atenta e repreendeu-o: «Olhe lá, que isso é impróprio!». Uns segundos depois reincidiu, e a detentora do poder paternal acabou por declarar que ele me autorizava a guardar-lhe o documento.

PS: é mesmo verdade que passou a ser obrigatório os recém-nascidos terem NIF para a declaraçao de IRS?

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Humor Britanico II

Em Portugal, se um medicamento pode ser comprado sem receita médica, diz-se que é de venda livre; em Inglaterra, diz-se que pode ser comprado ao balcao. A expressao é: "get it over the counter". Isso, está bom de ver, dá logo para fazer uma piada sobre o Viagra:


«Could I get it over the counter?»
«Maybe if you take two.»

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Marco e Sónia

Em letras gigantescas nas páginas centrais duma revista de mexericos, um daqueles casais instantaneos, feito famoso num reality show qualquer, anuncia:


WE'RE CLOSER NOW WE'RE NOT ON TV


Infelizmente, a senhora estava sentada dois bancos à frente do meu, e nao consegui inteirar-me dos detalhes desta história. Parece que a imprensa cor-de-rosa dá-lhes mais tempo um para o outro... o que talvez queira dizer que preferiam voltar à televisao!? Provavelmente é isso, mas nao posso dar a certeza.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Torneio das 5 Naçoes

Observa a figura com atençao. Um destes homens é um intruso; nao faz parte do grupo, nem tem a mínima hipótese de ganhar a taça. Qual?


















Pronto, se insistes, faz um círculo à volta dele, mas primeiro imprime a fotografia. 


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Pilates

Foi ao pilates que eu cedi. Mas nao vao já espalhar a notícia aos quatro ventos, que a coisa nao é bem o que parece. É que aqui o pilates é diferente e, lá porque um tipo fez uma sessao ou duas, ou mesmo que faça, digamos, tres por semana, nao é necessariamente gay.
Enquanto estive em Portugal, resisti sempre. Mas aí só havia dois tipos de pilates: a classe do GCP, onde andavam o Arnage, a MJ e mais trinta trintonas de Campo de Ourique, e na qual era obrigatório usar maillot de lycra e perneiras de la; ou as sessoes individuais na clínica do Chiado, as únicas recomendadas como sendo the real thing pelo meu osteopata da altura, que infelizmente já me tinha levado à falencia ele próprio, sem necessidade de qualquer despesa adicional.
De maneira que, quando também a minha médica de família se juntou ao coro dos que me tentavam perder, eu mantive-me firme e expliquei-lhe que, para mim, o único desporto aceitável era futebol. E que, se ela insistisse em recomendar-me coisas mais indicadas para a minha idade, o máximo que podia fazer por ela era jogar em posiçoes mais recuadas ou, no limite, ir à baliza: isso é praticamente fazer pilates.
Bom. Agora aqui o meu amigo Tom, de quem vos falei no outro dia, também veio dizer-me que o exercício ideal para evitar as minhas crises de costas era o pilates. Olhei-o pelo canto do olho, como quem diz: lá estás tu outra vez com ideias parvas. Mas, como sou incapaz de argumentar enquanto me torcem a perna e esmagam o esterno em simultaneo, sempre teve tempo de me explicar que eu só precisaria de ir a uma aula. Na verdade, aquilo é mais como ter explicaçoes: a professora tem a hora inteira por nossa conta e ensina-nos tudo tim-tim-por-tim-tim. Depois praticamos em casa, à medida da nossa disponibilidade, da nossa vontade e, pormenor muito importante, behind closed curtains. O ideal para mim.
Foi num Sábado de manha. A Sara foi para a aula de teatro, a Matilde para a de ballet e eu para a de pilates. Talvez o problema seja um pouco meu, que me desabituei de ir a aulas, mas a professora, ainda nem tinha começado a lição, já me estava a irritar. Haviam de a ver: a forma ágil como saltou de trás da porta para me receber, a forma confiante como se apresentou, a forma enérgica como me apertou a mão e sacudiu o braço, a forma atenciosa como me conduziu para o gabinete, a forma autoritária como me mandou sentar. Uma mulher em forma: um metro e meio de altura, quarenta e muitos anos, quarenta e poucos quilos.
Já me tinha constado que também o professor do GCP tinha este género de compleição física. Até prova em contrário, tenho cá para mim que o pilates foi inventado por um tipo com metro e meio, especialmente para os seus amigos com metro e meio. Eu cá, se não tivesse mais de metro e meio, também chegava com as palmas das mãos ao chão, na boa.
A professora parece que tem por método estender dois colchões no pavimento, e ir fazendo os exercícios lado a lado com o aluno. Talvez isso resulte com algumas pessoas, mas rapidamente tive que lhe dizer que comigo não estava a funcionar. Em primeiro lugar, por ser muito desmotivador. Bastava-me olhar para nós dois, para perceber que qualquer esforço da minha parte seria em vao: nem valia a pena tentar. Em segundo lugar, estava a deixar-me nervoso que nao houvesse ninguém a tirar apontamentos. O Tom tinha-me prometido que no fim receberia umas cábulas com figurinhas representando as várias posiçoes de cada exercício. E eu, que ia no segundo e já nao me lembrava bem do primeiro, não havia de sair dali sem isso... Em terceiro lugar, visto que ela afinal não ia precisar do seu colchão, talvez eu pudesse ficar com os dois, porque me estava a doer bastante o rabo!?
Uma vez rectificados esses aspectos, continuámos. O terceiro era um exercício muito simples, que toda a gente conhece. Sentar com as pernas esticadas para frente e progressivamente baixar o tronco, desde os 90º até o mais perto possível da horizontal. Nunca fui assim muito bom neste exercício. Em miúdo, com os meus braços de orangotango, ainda conseguia tocar com os dedos nas pontas dos pés, mas a testa sempre ficou bem longe dos joelhos. Claro que, com a idade, a coisa não se tornou mais fácil: neste momento, o meu desafio é mesmo sentar-me a 90º, porque o tronco insiste em ficar ali pelos 110º...
Nada disto, claro, impedia a minha professora de me ir fazendo elogios: muito bem (quase sempre), bom esforço (às vezes antes mesmo de eu tentar), excelente postura (quando não conseguia mover-me), etc... De alguma forma, parecia convencida que eu estava mesmo a sentir a minha nuca pendurada por um fio suspenso do infinito, ou que estava a inclinar alternadamente para Sul e para Norte o triângulo imaginário da minha zona pélvica (logo eu, que nem sabia que os homens também têm pélvis!)... Mas enfim, lá fui ouvindo e anuindo, que se não tivesse esta parte de conversa fiada também não era pilates, era só alongamentos, não era?   
Já mais para o fim, voltei a experimentar dobrar o tronco ao longo das pernas, só que desta vez partindo de uma posição vertical: nádegas encostadas à parede, pés ligeiramente afastados do rodapé, parte superior do corpo descontraída, deixei actuar a força da gravidade. Mas o resultado deve ter sido especialmente pobre: «Deixe-se descair à vontade! Não tenha receio que não lhe vai faltar apoio atrás.» Estive para lhe dizer que, embora a parede fosse apenas de uma placa de 13mm de gesso cartonado, eu sabia que não me ia faltar apoio. Simplesmente, a minha coluna não ia passar daquela posição, nem que atrás de si estivesse a Muralha da China.
Estava eu imobilizado nessa figura, a pensar se ainda faltaria muito para o fim da aula, quando ela me fez a pergunta que, provavelmente, estava a intrigá-la desde o início da sessão: «Então mas afinal isto foi um acidente de automóvel, ou que foi isto?». Acidente de automóvel? Acidente de automóvel? Meu Deus, onde chega a ignorância! Esta doutora se visse a coluna do Siza com certeza achava que ele tinha sido atropelado por um comboio de mercadorias...


Enfim. Melhor ou pior, a aula acabou e agora estou por minha conta. Pilateio aqui no chao da sala, depois de todos os que iriam rir-se de mim estarem na cama, e até me parece que estou a fazer progressos. Como já tenho o essencial mais ou menos assimilado, talvez esteja na hora de começar a dar atençao aos pormenores: salvo erro, durante o movimento era preciso manter o umbigo colado às vértebras e ainda coordenar a respiraçao... Nao que vá ser fácil. Como disse uma vez a nossa amiga Cristina a propósito das aulas pré-parto, «uma pessoa nestas alturas lembra-se lá de respirar! Já fiz quatro ou cinco sessoes e ainda nao respirei nada...»

sábado, 29 de janeiro de 2011

Young Architect Wanted

O crime que tem chocado o Reino Unido aconteceu em Bristol, nao em Nova Iorque.
Joanna Yates, uma jovem arquitecta paisagista, desapareceu em meados de Dezembro. O cadáver só viria a ser encontrado, coberto de neve numa beira de estrada, no dia de Natal.
Inicialmente, as suspeitas recaíram sobre o senhorio. Um homem de aspecto sinistro, com o cabelo comprido escovado de um lado para o outro da cabeça, escondendo a careca no topo (um penteado que eu julgava só existir em Portugal e que merecia, só por si, pena de prisao efectiva). Embora depois de interrogado tenha sido posto em liberdade, o senhor continuou ser, para a opiniao pública, de tao feio e à falta de alternativa, o presumível culpado.
Eis senao quando, na semana passada, foi detido um outro homem: o vizinho de Joanna, um arquitecto holandes de 32 anos. Alto, bem parecido, parece que inteligente e bem educado, com namorada e emprego estáveis. A cara dele até me faz lembrar um bocado um amigo meu chamado Rogério, embora isso nao queira dizer nada, porque o Rogério era um tipo um bocado irascível, sobretudo se desconfiava que estavam a fazer pouco dele ou do irmao.
Seja como for, choca um bocado ver um colega suspeito de uma coisa assim. Ainda se a vítima fosse engenheira electrotécnica ou de águas e esgotos... Mas uma paisagista nao faz mal nenhum, caramba! Enfim, há que confiar na justiça, e dar-lhe tempo para esclarecer o mistério. Só espero, entretanto, que a animosidade da populaça nao se estenda a todos os arquitectos estrangeiros, jovens, bonitos e simpáticos.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Humor Britanico

A gente aí fala muito do humor britanico, mas eu aqui ainda nao consegui perceber bem o que isso é. Já vou compreendendo a maior parte das piadas - presumo que seja o primeiro passo; mas o difícil é estabelecer-lhes um padrao ou identificar-lhes as particularidades comuns.
Deixo aqui para amostra uma rapidíssima sequencia de emails que me fizeram todos rir, cada um de sua forma. É conversa entre arquitectos de vários ateliers que se juntam para jogar futebol às quartas-feiras ao fim do dia. A confirmaçao das disponibilidades e o alinhamento das equipas sao feitos através de mails de grupo que vao circulando entre todos os seleccionáveis, praticamente até à hora do encontro. Isto é um extracto fiel do mais recente, ao qual só retirei os apelidos e os endereços de email para "proteger o anonimato dos intervenientes" como fazem os blogues à séria.


Subject: Re: DYNAMO WEDNESDAY -12th January Teams

On 12/1/11 at 11:25, David wrote:
Simon,
Looks like I'll be out for a bit. Results from latest scan/test suggest its been labyrinthitis.
Balance and vision still a bit dodgy. First touch is about the Alastair level which gives an indication of how long the road to recovery will be!
Cheers
David


On 12/1/11 at 15:53, Ian wrote:
Labyrinthitis? Isn’t that disappearing up your own arse?
Get well soon!
Ian


On 12/1/11 at 16:01, Daniel wrote:
Or do you have to play dressed as David Bowie?


On 12/1/11 at 16:07, Mark wrote:
C’mon Lads show a bit of sympathy here - Dave’s been running down blind alleys for years.


On 12/1/11 at 16:10, Paul wrote:
Running’ is a bit of a generous word?


On 12/1/11 at 16:14, Daniel wrote:



quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Isto sou só eu?

Ou voces também, agora com esta coisa dos iPods e dos iPhones, parece que estao sempre na iminencia se trocarem e de dizerem um grande palavrao?
A cautela que é preciso ter!, para falar deste assunto sem meter o pé na poça, quando a nossa filha de dez anos vem tentar cravar-nos um, ao fim de um dia de trabalho, com base no argumento de que a Phoebe já tem os dois...

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Aprender portugues

A meu pedido, este ano foi a avó Luísa quem fez de Pai Natal consciencioso e enviou para a Matilde dois livros com fichas de trabalho do 1º ano do ensino básico (ainda é assim que se diz?). Isto porque andávamos um pouco preocupados com o catch up que ela tem que fazer em relaçao à portuguesa língua, now that o seu english progride at light speed.
Comovedor o entusiasmo com que ela os recebeu e tomou como mais uns passatempos, umas actividades para se divertir. Espantosa a facilidade com que começou a ler e a escrever em portugues, distinguindo rapida e intuitivamente as diferentes correspondencias entre grafemas e fonemas, numa e na outra língua. Faz quando lhe apetece, ao ritmo de uma página por dia.
Nós vamos acompanhando. A boa notícia é que o Raposinho ainda nao adoptou o Acordo Ortográfico. A má é que também nao fez o mínimo esforço de actualizaçao de conteúdos, desde há pelo menos 32 anos. Lá estao ainda, tal como eu me lembrava deles, o Pedro, o Paulo e o Pai, todos entretidíssimos a lançar o piao.
Claro que o problema da Matilde nao é ler piao, nem escrever piao: o problema dela é o que é que é isso, um piao!? E como é que eu lhe explico? Eu também fiz a Primária, e a Secundária toda, sem nunca ter visto um piao. Durante anos, o mais parecido que eu vi com um piao foi o negativo do piao: a cicatriz que o bico tinha deixado nas costas da mao do meu pai, desde o tempo em que era ele o menino.
Agora que penso nisso, nao sei se essa história estaria um pouco romantizada... A verdade é que eu já era crescido, quando o meu pai foi atacado por um saudosismo qualquer, que o fez comprar um piao dos antigos e demonstrar a sua técnica à minha frente. A coisa foi de tal modo reveladora, que muito me espanta que a cicatriz nao lhe cobrisse também cabeça, tronco e membros...
Seja como for, o que eu queria aqui pedir - se por acaso os editores do Raposinho me estiverem a ler - era que dessem lá um jeito nas fichas, porque assim ninguém - sobretudo nenhum estrangeiro - vai querer (ou conseguir) aprender portugues. A prioridade é, obviamente, substituir a palavra piao. E dou já daqui a minha sugestao: Playstation.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Filmes, Cidades, Saudades

Entre as melhores recordaçoes de quem deixa uma cidade, estao sempre alguns filmes e certos cinemas.
Mas eu nao sinto a falta do Quarteto, nem do King, nem sequer do Nimas. O que de repente me deixou com saudades de Lisboa foram estes dois pequenos filmes amadores, seis minutos no total, da Festa de Natal da Fundaçao Musical dos Amigos das Crianças.
Parabéns à Catarina e ao Joao, e também aos pais justamente embevecidos.

sábado, 1 de janeiro de 2011

2011

Com este novo ano, entramos na década que fará de todos nós uns esplendidos quarentoes.
A primeira a ser beneficiada será a mana mais velha, nascida em 1971. A seguir serei eu, que nasci em 1972. Depois a mana mais nova, que nasceu em 1974 e logo de seguida a Ana, que nasceu em 1975. E por aí fora...
Em 1973? Nao sei se nasceu alguem. Mas aconteceu isto:

da medicina privada - II

De maneira que agora, aqui em casa, quem recorre a um médico privado é sempre olhado de lado.
Eu, por exemplo, acho que a Ana podia muito bem suportar as dores de dentes até irmos a Portugal e ofereço-me sempre para lhe marcar consultas gratuitas com o meu irmao. Só me deixei convencer porque cá no Reino Unido as grávidas e maes recentes tem direito a tratamentos integralmente pagos pelo Estado.
Já a Ana desconfia muito da necessidade e do real benefício dos tratamentos osteopáticos às minhas costas e, às meninas que perguntam por mim, diz sempre que estou «nas massagens». Acho que só se deixou convencer porque, em vez da Cindy ou da Sue, escolhi ser tratado pelo Tom.
O Tom é porreiro. Mas o problema nao é ele ser ou nao ser porreiro, o problema é ele ser um miúdo. Os jogadores de futebol ainda vá; agora quando os médicos sao tao mais novos, saudáveis e bem-dispostos que nós, torna-se difícil de engolir. Claro que a juventude do Tom tem vantagens: trabalha até tarde, está empenhadíssimo no caso, ouve-me com atençao e faz sessoes bem puxadas. 
Profissionalmente, nao tenho nada a criticar ao Tom. O que talvez ainda lhe falte é aquela maturidade, aquele  tacto na relaçao com o paciente, que só a experiencia ensina. Nomeadamente, acho chato ele ter um livro sobre anatomia equídea em cima da secretária. Que ele se interesse pelo assunto, nada contra; mas deixando-o ostensivamente à vista do paciente, corre o risco de transmitir a ideia que preferia estar a tratar cavalos em vez de pessoas, ou que está a tratar pessoas como quem trata cavalos.
Outro exemplo foi a lista de recomendaçoes que me fez depois da primeira consulta. Disse-me que nao podia carregar pesos, que tinha que passar a dormir mais horas, que devia tomar banhos de imersao prolongados e fazer exercício com regularidade. Nesse dia cheguei a casa uma hora e meia mais tarde do que o habitual. A Ana ouviu-me repetir a lista, passou-me o Miguel para o colo e comentou: «Acho bem. Vais começar a trabalhar em part-time, nao é?».
Eu, culpado que sou de usar este blog para fazer queixinhas da minha mulher, desta vez dou-lhe toda a razao. Entao isso sao coisas que se sugiram a um homem da minha idade, que trabalha oito horas sentado à secretária, que perde duas horas por dia em comboios e que tem tres filhos, um dos quais recém-nascido? Banhos tépidos e prolongados? Uma coisa é ser pago, outra coisa é ser um vendido!