terça-feira, 29 de março de 2011

Eleiçoes

Ainda nao percebi afinal quem é que ganhou.
Mas fiquei satisfeito de saber que nao foi o outro, porque tínhamos planeado aproveitar a próxima estadia em Portugal para irmos finalmente visitar a Casa das Histórias Paula Rego (nem de propósito), e estava-me a custar saber que nessa altura já o Sporting ia ter um departamento chines para receber uma comissao sobre as entradas nos museus.

domingo, 27 de março de 2011

Manas

A Sara entrou definitivamente na adolescencia e perdeu-se para qualquer tipo de contacto social nos anos mais próximos.
A Matilde, que vinha desabrochando na sua sombra, tem agora a oportunidade de ocupar o palco central. Mas hesita. Se, por um lado, lhe agrada mostrar-se crescida e capaz, por outro ve-se que lhe custa entregar assim de mao beijada o estatuto de benjamim da família ao menino Miguel.
Um dilema! A que se junta ainda a hipótese, também atraente, de emparceirar com a irma mais velha, entrando ela própria numa espécie de precocíssima idade do armário. Da Matilde, portanto, cá em casa nunca ninguém sabe muito bem o que esperar.
Uma destas noites depois do jantar, durante o meu habitual exercício de step entre o caos que fica na sala e na cozinha e o caos que se instala lá em cima, parei no piso do meio. As manas estavam enfiadas no quarto, com a porta encostada.
- Oh meninas! Está quase na hora de ir para a cama. Toca a lavar os dentes e a fazer xi-xi!
A Matilde foi logo. A Sara pediu "só um segundo", porque estava mesmo a acabar (ou no meio, ou a começar) qualquer coisa. Subi e desci mais duas ou tres vezes. Estas coisas fazem-se em piloto automático. Nao sei quanto tempo demorei, nem em cima nem em baixo. Mas pareceu-me pouco e nao me apercebi de mais movimento na casa de banho. De modo que entrei no quarto delas e perguntei de chofre:
- Oh Sara, afinal quando é que tu vais lavar os dentes?
Muito ofendida, a Sara respondeu-me que já os tinha lavado. Mas estava com dificuldade em convencer-me. Já em desespero de causa, voltou-se para a Matilde, pedindo-lhe que comprovasse a sua história.
- Lavei! Nao lavei, Matilde? Diz ao pai, Matilde! Diz ao pai, se eu nao lavei os dentes!?
A situaçao nao me agradava nada. Eu tinha cá as minhas maneiras de resolver este assunto: ou acreditar nela, ou fingir que acreditava nela, ou cheirar-lhe o hálito se quiser pregar-lhe um susto, ou mandá-la lavá-los outra vez para ficarem mais bem lavados. Mas hesitei um segundo. Um segundo em que o suspense cresceu. A Matilde tinha uma oportunidade. A Sara nunca lhe perdoaria se mentisse. Eu nem queria saber a verdade, só estava curioso de saber como é que aquilo ia acabar.
A Matilde continuava de olhos pregados no chao. Depois fixou-os na Sara. Outra vez para o chao. A seguir para mim. Depois rodou-os para o tecto e disse com voz baixinha, como quem faz um comentário aparte:
- Ela nao fez xi-xi...

sábado, 19 de março de 2011

Umbiguismos

Este blogger nunca se gabou da sua audiencia. Em primeiro, porque nunca confundiria quantidade com qualidade. Em segundo, porque nao tem audiencia.
"Audiencia"!? Mas que nome mais parvo, para os dias que correm. Proponho já aqui que adoptemos antes o termo "onlinencia" para o grupo de leitores de um blog. Vamos a ver se a moda pega.
Nunca me gabar nao significa, no entanto, que nao me interesse. O Joao Caria até me instalou nao-sei-o-que, que me manda um email todas as semanas a dizer quantas visitas teve o blog. Nao que eu precisasse, porque eu sei muito bem quem é que aqui vem: a Arnage, a Joana, a Pmarques e a Rantanplan (nestas coisas, nada como a ordem alfabética); e, claro, também o Bu, que mais ou menos uma vez por mes se cansa do site da CMVM.
Mas eu, que até há bem pouco tempo só sabia escrever posts, apercebi-me entretanto que tenho no blog todo um mundo de definiçoes, opçoes e formataçoes à minha disposiçao. Naturalmente, ainda nao dispus de nada, nem vou dispor. Mas de vez em quando consulto a páginas das estatísticas, onde posso ficar a saber nao só quantas visitas teve o blog, como também em que dias e a que horas e durante quanto tempo, a partir de que país, ou até - interessantíssimo - quais sao os browsers e os sistemas operativos do visitantes. Pois é, Big Brother is watching you.


Nao sei lá por que, fascina-me aquele planisfério. Como podem ver, o mundo começa por ser todo branquinho. Depois, à medida que surgem visitantes, daqui e dali, vai-se progressivamente colorindo o respectivo país, adensando-se o tom de verde. Portugal e o Reino Unido aparecem sempre bem garridos: o primeiro, com certeza devido à concentraçao de leitores (e ainda por cima sportinguistas); o segundo, graças às minhas frequentes reentradas no blog, só para corrigir a pontuaçao dos posts, mesmo que publicados há vários meses (e ainda sem nenhuma notícia da Academia Sueca).
Curiosamente, a estatística regista todas as semanas alguma onlinencia noutros países. Os meus preferidos sao os mais grandes: porque aparentemente alguém visita o blog a partir dos Estados Unidos (cá para mim, é um açoreano a gamar a net da Base das Lajes), pinta-se logo aquela terra toda, e nem sequer se esquecem do Alasca. E se nesse mes, por engano, aqui entra alguém do Canadá ou da Rússia, é quase um terço do planeta que fica sob a minha alçada telepática.
Ora, contando eu os meus leitores pelos dedos de uma mao, e sabendo permanentemente do paradeiro de quatro deles, ainda pensei durante algum tempo que era a Joana que se fartava de viajar. Mas depois percebi que era impossível: nem o Phileas Fogg esteve em tanto lado em tao pouco tempo... Isto é, obviamente, uma artimanha da Microsoft para ir mantendo os bloggers animados.
Agora, desta vez, excederam-se. Se repararem bem na imagem acima, garantem-me que durante a semana passada houve 4 visitantes do Japao. Do Japao, na semana passada! Imaginem: como se nao lhes bastasse um terramoto, um tsunami e um acidente nuclear, ainda iam ver o meu blog. Diz-se que uma desgraça nunca vem só, mas isso já era exagerar.

sexta-feira, 18 de março de 2011

É a crise

Com a crise, implementaram lá no atelier cortes de salários. É tramado.
Com cortes no meu salário, a Ana vai ter que voltar a trabalhar. É tramado.
Com a Ana a trabalhar, o Miguel vai ter que ir para a creche. É tramado.
Com o Miguel na creche, os pais vao ter que pagar a mensalidade. É tramado.
Enfim, tudo isto é tramado, mas também nao é nenhuma crise: é a vida! Agora crise, mas crise a valer, vai ser lá no Sunflowers, quando descobrirem o apetite do Miguelinho... É que nao há mensalidade que lhes cubra o prejuízo!

quinta-feira, 10 de março de 2011

Só um

Só um post sobre o Benfica. Prometo que nao volto a falar deles, nem que ganhem a taça Uefa.
É verdade que, este ano, o Jorge Jesus terá cometido alguns erros e demorou a acertar com a equipa. É certo e indiscutível, por exemplo, que o FCP será o justíssimo vencedor do campeonato.
Mas o Benfica está a dar espectáculo. Hoje vi um bocadinho do jogo com o PSG. A tentar recuperar da desvantagem, as movimentaçoes atacantes da equipa eram tao frenéticas como bem estruturadas. E, ao contrário do que dizem as más línguas, nao me pareceu que dependessem exclusivamente dos avançados argentinos emprestados. Alguém reparou, quando o defesa direito surge no interior da área adversária para receber o passe do médio e marcar o golo do empate, quem é o outro jogador do Benfica que aparece como uma flecha, para tentar uma eventual recarga? Pois é... é o defesa esquerdo!
Isto, Pep, é o futebol total.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Sócrates e Merkel

Ó Angela, 'tá bem que nós ainda nao controlámos o coiso, mas olhe que isto agora das qualificaçoes académicas do seu ministro também é uma barracada dos diabos, hä?

Síndrome de Secretário

Se tudo correr como previsto, a obra que eu estou a acompanhar estará terminada em meados de Junho, bem a tempo do começo do próximo ano lectivo. Passámos o ponto crítico: toda a informaçao está finalmente nas maos do Empreiteiro e só nos resta acompanhar a execuçao dos trabalhos, esclarecendo dúvidas pontuais.
A obra está agora na fase de acabamentos, ou "limpos", para usar o jargao arquitectónico. Instala-se a fachada cortina, começam a perceber-se os alinhamentos do betao, revestem-se os toscos com superfícies desempenadas, deixam-se à vista as ligaçoes metálicas mais elegantes, montam-se as carpintarias... Até a alheta parece que vai bater no sítio certo e fazer a tao necessária linha de sombra! Isto é uma emoçao.
Por isso se torna especialmente frustante saber que o Cliente já pediu ao meu patrao um projecto de alteraçoes. Reparem que ele nao quer umas alteraçoes ao projecto: isso já todos estamos habituados e damos de barato. Nao, o que ele quer é que comecemos um projecto para alterar o edifício que ainda nao acabámos de construir!
Eu hoje só me conseguia lembrar do Secretário. Também me apeteceu correr pelos corredores, bater com a cabeça nas paredes, esmurrar portas e gritar: "Deixem-me acabar, c*#@%! Eu ainda nao acabei, c*#@%!"