sexta-feira, 8 de abril de 2011

Ainda há-de vir o dia

em que teremos saudades de Sócrates. Serao momentos como este que vao perdurar na nossa memória.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Apelo

O Michael Shepherd e eu andamos a jogar no Euromilhoes todas as semanas desde o início do ano, e até agora ainda nao nos saiu o Jackpot.
A coisa é tanto mais escandalosa quanto sabemos, de fonte segura, que a nossa aposta fica registada informaticamente nos computadores da entidade responsável pelo concurso, muitas vezes com antecedencia de vários dias em relaçao ao sorteio, e portanto pareceria relativamente fácil atribuirem-nos o prémio.
Mas nem sequer se pode dizer que estejam a fazer um esforço: nao é que falhem por um número ou dois, o que, embora difícil de aceitar, podíamos compreender, porque ninguém é infalível e um lapso desses acontece até aos profissionais mais competentes. Nao, eles ignoram ostensivamente a nossa chave, e só por mero acidente fazem sair um dos nossos números, nunca dois na mesma semana.
Isto, em nosso entender, configura um caso de recorrente e inadmissível abuso de poder, que precisa de ser denunciado. Antes de o fazer, contudo, vamos escrever à administraçao da empresa, dando-lhes uma hipótese de se retractarem. Exigiremos a atribuiçao do primeiro prémio, a título de compensaçao por legítimas expectativas defraudadas, no prazo máximo de um mes (ou quatro sorteios, conforme o que suceder mais cedo) após a recepçao da nossa carta.
Eu até achava que devíamos requere-lo imediatamente. Mas o Michael fez-me ver que isso nao seria razoável, dado que eles naturalmente terao já compromissos assumidos com outros apostadores para as próximas datas. Diz que perderíamos credibilidade se insistíssemos em fazer valer os nossos direitos à custa dos direitos de outras pessoas. Ele é muito british.
Caso insista no incumprimento, nao nos restará outra alternativa senao accionar judicialmente a empresa. Já explicámos toda esta situaçao a um advogado, e estamos convencidos de que, na pior das hipóteses, conseguiremos a restituiçao do montante investido desde o início do ano. Nao que seja muito, mas é uma questao de princípio.
Para dar mais força à nossa reclamaçao, estamos interessados em recolher testemunhos de outras pessoas a quem o mesmo tenha eventualmente sucedido. Se souberem de algum caso, por favor peçam às pessoas visadas que  entrem em contacto comigo (vou precisar das datas concretas, e também seria bom recolher os taloes nao premiados, caso ainda os tenham consigo). Por favor reencaminhem esta mensagem para os vossos amigos e conhecidos.

De génio

O Jorge Jesus percebeu que, esta época, a única hipótese que tinha de arreliar um bocadinho os portistas era impedi-los de conquistar o campeonato num jogo em casa. Tenho cá para mim que ele já tinha delineado este plano há uns bons meses, e cumpriu-o na perfeiçao.

sábado, 2 de abril de 2011

Gostos nao se discutem

Pode até parecer paradoxal, mas agora que a crise se instalou é que eu comecei a reparar, a interessar-me, a ter uma opiniao sobre as tendencias da moda em roupas para crianças e bebés.
Os meus preferidos sao as calças de pernas longas e as camisolas de mangas compridas, enroladas para cima até aos tornozelos e aos pulsos, com tres ou quatro dobras de 15 cm.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Como é que isto se explica ao bebé?

Miguel, lembras-te daquela coisa preta no pulso do papá que tu estás sempre a agarrar? Isso é um relógio. No fim-de-semana passado, o relógio adiantou-se uma hora: à uma da manha, passaram a ser duas da manha. Nao precisas de saber por que, é uma coisa que os grandes combinam entre eles.
Ora bem, se à uma passaram a ser duas, às sete passaram a ser oito. Ou seja, se, na semana passada, tu te levantavas às 7:00, seria apenas natural que mantivesses o teu ritmo e, nesta semana, te levantasses apenas às 8:00. Acredita, ninguém te recriminaria. Mas, como já percebemos que és um rapaz cumpridor, também nao estranharíamos que tivesses feito o esforço de assimilar a alteraçao: podias continuar a levantar-te às 7:00 porque, bem vistas as coisas, é a hora a que os papás se levantam.
Mas, Miguel, nao há razao nenhuma para te levantares às 6:00! Por que é que esta semana tu te levantaste todos os dias às seis em ponto? Nao há mesmo necessidade. Foi alguma coisa que tu nao percebeste, Miguel. Eu explico-te outra vez, que temos tempo...
Estás a ver esta coisa preta aqui no meu pulso?  

terça-feira, 29 de março de 2011

Eleiçoes

Ainda nao percebi afinal quem é que ganhou.
Mas fiquei satisfeito de saber que nao foi o outro, porque tínhamos planeado aproveitar a próxima estadia em Portugal para irmos finalmente visitar a Casa das Histórias Paula Rego (nem de propósito), e estava-me a custar saber que nessa altura já o Sporting ia ter um departamento chines para receber uma comissao sobre as entradas nos museus.

domingo, 27 de março de 2011

Manas

A Sara entrou definitivamente na adolescencia e perdeu-se para qualquer tipo de contacto social nos anos mais próximos.
A Matilde, que vinha desabrochando na sua sombra, tem agora a oportunidade de ocupar o palco central. Mas hesita. Se, por um lado, lhe agrada mostrar-se crescida e capaz, por outro ve-se que lhe custa entregar assim de mao beijada o estatuto de benjamim da família ao menino Miguel.
Um dilema! A que se junta ainda a hipótese, também atraente, de emparceirar com a irma mais velha, entrando ela própria numa espécie de precocíssima idade do armário. Da Matilde, portanto, cá em casa nunca ninguém sabe muito bem o que esperar.
Uma destas noites depois do jantar, durante o meu habitual exercício de step entre o caos que fica na sala e na cozinha e o caos que se instala lá em cima, parei no piso do meio. As manas estavam enfiadas no quarto, com a porta encostada.
- Oh meninas! Está quase na hora de ir para a cama. Toca a lavar os dentes e a fazer xi-xi!
A Matilde foi logo. A Sara pediu "só um segundo", porque estava mesmo a acabar (ou no meio, ou a começar) qualquer coisa. Subi e desci mais duas ou tres vezes. Estas coisas fazem-se em piloto automático. Nao sei quanto tempo demorei, nem em cima nem em baixo. Mas pareceu-me pouco e nao me apercebi de mais movimento na casa de banho. De modo que entrei no quarto delas e perguntei de chofre:
- Oh Sara, afinal quando é que tu vais lavar os dentes?
Muito ofendida, a Sara respondeu-me que já os tinha lavado. Mas estava com dificuldade em convencer-me. Já em desespero de causa, voltou-se para a Matilde, pedindo-lhe que comprovasse a sua história.
- Lavei! Nao lavei, Matilde? Diz ao pai, Matilde! Diz ao pai, se eu nao lavei os dentes!?
A situaçao nao me agradava nada. Eu tinha cá as minhas maneiras de resolver este assunto: ou acreditar nela, ou fingir que acreditava nela, ou cheirar-lhe o hálito se quiser pregar-lhe um susto, ou mandá-la lavá-los outra vez para ficarem mais bem lavados. Mas hesitei um segundo. Um segundo em que o suspense cresceu. A Matilde tinha uma oportunidade. A Sara nunca lhe perdoaria se mentisse. Eu nem queria saber a verdade, só estava curioso de saber como é que aquilo ia acabar.
A Matilde continuava de olhos pregados no chao. Depois fixou-os na Sara. Outra vez para o chao. A seguir para mim. Depois rodou-os para o tecto e disse com voz baixinha, como quem faz um comentário aparte:
- Ela nao fez xi-xi...