terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Velha máxima latina



Uma das coisas boas que me aconteceu em Lisboa foi ter tropeçado numa banca de livros, dessas amiudemente improvisadas nesta quadra para tentar escoar o fundo dos stocks, numa altura em que todos os presentes estavam já comprados e trocados, e eu comutava com enorme vagar entre duas linhas de metropolitano.
Ali troquei uma nota de cinco, amarrotada e gasta, por este livrito, pronto a estrear. Uma verdadeira ediçao de lixo, promovida há alguns anos para celebrar o aniversário de um jornal entretanto extinto sem deixar muitas saudades, e que se apresenta com capa dura, 188 páginas de texto e um número certamente superior de gralhas.
Mas o conteúdo é precioso. O volume reúne crónicas de imprensa de Raúl Lino, publicadas nas décadas de 1950-70, que oscilam entre uma acçao cívica empenhada e uma arrasadora crítica de costumes. Inteligente, culto, perspicaz, sensato, irónico: nunca pensei comparar-me com ele enquanto arquitecto, mas chateia-me que me ultrapasse também como blogger.
Enfim... Humildemente, agradeço a Deus ter-me dado a capacidade de apreciar. E nao resisto a transcrever aqui uma velha máxima, perfeita para arquitectos e aspirantes, que descobri por seu intermédio: Aedifica quasi semper victurus; vive quasi statim moriturus.

PS: A traduçao que Raúl Lino apresenta, «Edifica para venceres o tempo; vive como se logo morresses», é muito semelhante às que aparecem numa breve pesquisa de internet, e deduzo que seja a mais certa. A mim, que nao sei nada de latim, soa-me melhor «Edifica como se para sempre vivesses; vive como se logo morresses». Mas isso já sao pormenores.

6 comentários:

Anónimo disse...

Gosto mais de "constrói" do que "edifica", que, pelo menos aos leigos, faz só pensar em edifícios, coitadinhas das pontes e barragens e assim! Além de que as fórmulas populares dão sempre mais aquele ar de mangas arregaçadas que tanta falta nos faz. Portanto, com os meus pergaminhos de não perceber nada de latim a não ser o que vem no Astérix, aqui fica a sugestão...

Anónimo disse...

acho que o lino estava a pensar mais na imortalidade dele do que na da obra. e acho que tu estás viciado na gramática ;)

mas gostei de conhecer.

capacete disse...

rantanplan:
tem graça dizeres isso, eu também gosto muito mais de construir (pedra sobre pedra, em vez de prefabricado, de preferencia) do que de edificar! só nao tive a lata de corrigir essa também porque a citaçao vem num texto onde R.L. explora a suposta nobreza da palavra «edificar».

pmarques:
absolutamente. mas o que tem graça é tentar imaginar como seria a arquitectura de alguém que viesse projectando desde há 2500 anos, e soubesse que continuaria a faze-lo por outros tantos, e a conviver com isso. nao seria muito de modas, penso eu...

Anónimo disse...

Capacete: tás a ver as vantagens da ignorância? (neste caso, do resto do texto...). Ninguém s'acredita, mas é mesmo assim: as vantagens da ignorância

Anónimo disse...

Muita tinta correu nos jornais e nos blogs quando umas semanas antes do Natal a Buchholz "abriu" as portas da sua nova livraria no Chiado, aqui mesmo ao lado da minha casa. As aspas no "abriu", assim como a tinta, foram motivadas, não pelo acontecimento em si, que esse seria de louvar (logo pouco dado a grandes teses), mas pela fusão espaço-temporal entre livros e serventes de obra, que misturou no espaço muitos colunáveis e muito pó.
Hoje as obras continuam mas o espaço tem menos poeira e mais livros. Foi lá que ontem encontrei a capa que aqui publicaste, e que, depois de lido o teu post, não pude deixar de adquirir. Ao lado, outras obras da mesma colecção, desse tal jornal que deixou saudades sim, não pela extinção, como afirmas, mas sim pela "morte", cronologicamente muito anterior.
O melhor mesmo foi que isto tudo passou-se na volta do cinema, pouco antes da meia-noite, hora a que a livraria encerra diariamente. Tem, para além de obras repescadas do fundo dos armazéns (talvez também daí o pó), uma simpática máquina de café, um espaço infantil e uma secção de antiguidades cujo conteúdo não explorei ainda. Terá no futuro, dizem, uma pequena esplanada comunicante com o vizinho café royale. E o preço do livro foi 20% inferior à tua nota amarrotada.

capacete disse...

FMonica
Agora fizeste-me lembrar a minha excitaçao quando abriu a Byblos, à minha porta... Enfim, desejo mais sorte à Buchholz, para tua alegria!
Estamos de acordo em relaçao ao Independente; espero que nao te arrependas do R.L. (às vezes o Capacete efabula um bocadinho...)