quarta-feira, 1 de outubro de 2008

The Height of an Architect

Aí em Portugal, eu era alto. Nao escandalosamente alto, mas suficientemente alto para nao pensar nisso. Estava um bocadinho além da média e portanto olhava ligeiramente de cima para a maior parte das pessoas. Nao me entendam mal: nunca vi nisso qualquer vantagem, tal como nunca pensei que alguém se sentisse em desvantagem perante mim. Simplesmente, habituei-me a que fosse assim. E agora estranho.
Aqui em Inglaterra, eu sou baixo. Nao serei escandalosamente baixo, mas sou suficientemente baixo para pensar nisso. Em rigor, talvez eu até esteja na média, mas isso agora parece-me pouco. Quer dizer, passou a ser muito possível que o meu interlocutor seja mais alto que eu, e confesso que isso me aborrece. Nao a ideia em si, mas a situaçao na prática: custa-me dobrar as cervicais para trás, e quando o faço deixo de conseguir fixar a pessoa franzindo o sobrolho, como costumava. Sinto-me diminuído.
É que nao há volta a dar: por muito que nos tenham ensinado a olhar para o interior das pessoas, é impossível deixar de ter em conta o exterior. Sobretudo aqueles exteriores maiores que o nosso. Um tipo alto mete respeito: a própria Agustina afirmou que tinha votado no Cavaco por causa disso, mas foi na rádio e ninguem estava a ouvir.
Reflectindo neste assunto, dei por mim a constatar que, na minha vida, sempre prestei contas a homens altos: primeiro ao meu pai, depois ao Joao Pedro, depois ao Manel... Claro que foi uma coincidencia, mas começo a pensar se nao devia tomá-lo como regra. Aliás, ainda há uns dias tive uma entrevista promissora em Manchester e já vou recusar o lugar, porque o patrao é baixo demais. À primeira divergencia de índole profissional, ia de certeza levantar-me e perguntar-lhe: «Como é? Queres porrada?».

2 comentários:

Anónimo disse...

Como te compreendo...mas para mim é bastante mais triste, nem precisei de sair do país... Foi só uma questão de passagem do tempo, e eu não sou o Matusalém! Quando era piquena, lembro-me de ter ideia de ser alta, assim ao pé das miúdas da minha idade. Então porque é que agora qualquer par de calças que experimente me fica a rojar pelo chão cerca de 30 cm? É só miúdas gigantonas à minha volta (e giras e algumas loiras, mas isso é outro problema!!). Pronto, haja o consolo de que muitas calçam 40, o que é muito bem feito, mas ainda assim...

capacete disse...

«Foi só uma questao de passagem do tempo, e eu nao sou o Matusalém!» é uma frase que eu gostaria de ter escrito!

Aqui também há muitas dessas matulonas. Normalmente sao bem gordas, e ficam completamente entaladas nas calças, transbordando depois por cima da cintura.
Maldosamente, aqui apelidaram-nas de «muffins», o que penso também dará algum consolo a gente mais bem proporcionadinha...?