Setembro foi mes de sol e de sal.
Nao, nao fui a Portugal passar o resto do verao na praia. Foi mesmo aqui em Nantwich, paralelo 53º norte, a 60 quilómetros do mar. O Agosto nublado e chuvoso tinha-nos feito temer pelo resto do ano. Afinal, logo a seguir vieram dias claros. Com a Ana na fábrica e as meninas na escola, soube-me a férias.
O meu programa predilecto, transformado em ritual quase diário, foi a piscina. Nao a interior, morna e desinfectada, preferida por quem vem boiar em grupo ou espernear aleatoriamente, mas a exterior: um tanque fundo e comprido, que é alimentado directamente a partir de uma gélida nascente de água salgada. Coisa de homens. Celtas, de preferencia.

Recomendou-ma o gerente um dia, depois de eu abalroar a segunda velhinha que se atravessou à minha frente. Com um ar meio reprovador, meio solidário, disse-me que a piscina exterior era melhor para serious swimmers. Embora certo de que estavam simplesmente a tentar livrar-se de mim, resolvi experimentar.
É certo que há ali uma dificuldade inicial, que é sair do edifício, vestido só com uma tanga e já todo molhado, quando cá fora estao doze graus e faz vento. Mas isso até torna mais fácil entrar na água, e com as primeiras braçadas recupera-se.
A partir daí, realmente é um prazer: a pista (e às vezes a piscina toda) só para mim, durante horas a fio; a densidade própria da água salgada, tornando quase fácil nadar mariposa; e os cinco metros extra no sentido do comprimento, que correspondem a um treino suplementar de 20%, quase sem dar por isso.
Bom, mas isto nao era para armar em campeao. Phelps há só um, o Bruno e mais nenhum. O que eu queria mesmo contar era da paz, do silencio e do cheiro das árvores em redor. É que o melhor momento do treino é o chamado repouso activo: depois de um pico de esforço, fazer umas piscinas a recuperar, nadando costas clássico, com pernas tipo bruços e braços em simultaneo.
É um movimento ritmado mas relaxante, em que se desliza muito, e de forma suave. Quando os braços passam junto às orelhas, nao é muito correcto, mas sabe bem, deixar a cabeça afundar. Nessa altura, o gozo é deixar a água salgada entrar pela boca e sair pelo nariz, de forma a sentir-lhe o sabor sem a engolir. E manter os olhos bem abertos, para ver, a partir de baixo, os raios de sol entrarem um a um na superfície agitada da água. Muito bom.
Enquanto durou. Dia 1 de Outubro encerraram a piscina, até ao próximo verao. De qualquer modo, a chuva também já voltou...