quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A ferro e fogo

Agora que os italianos atearam fogo à Piazza del Popolo e que com certeza nao falta muito para os gregos deitarem abaixo o Partenon, talvez já poucos se lembrem das imagens dos violentos protestos estudantis em Londres. Nao me refiro à suposta agressao de uma duquesa dentro de uma limusina, nem sequer ao alegado desrespeito do filho do Pink Floyd pelo Cenotáfio. O que me chocou mais foi o protesto anterior, em que uma multidao de energúmenos escavacou o hall de entrada de um edifício inocente.
Custa-me muito ver edifícios assim tratados. Mais ou menos modernos, de melhor ou pior traço, nao importa; nos dias que correm, só por estarem quietos e calados, os edifícios mereciam outro respeito. E depois estes ataques sao especialmente cobardes porque, embora pareçam espontaneos e até descontrolados, na verdade sao dirigidos de forma cirúrgica aos pontos fracos do edício. Estes valentes encapuzados arrancam o tecto falso, queimam o balcao e partem os vidros. Por alguma razao, nao se atiram ao cabo de alta-tensao nem se metem com os pilares de betao que suportam a laje acima das suas cabeças.      

7 comentários:

pmarques disse...

energúmenos (palavra já esquecida!) mas não completamente desprovidos de esperteza!

capacete disse...

Nao completamente desprovidos, nao.

O exemplo mais comovedor é o do vidro temperado e laminado que, como sabes e pudeste observar, estilhaça em bocadinhos inofensivos e se mantém agarrado à película plástica enquanto isso lhe é fisicamente possível, de modo a nao magoar ninguém nas redondezas... Inclusivé aqueles que nao param de lhe acertar pauladas e pontapés, a torto e a direito!

Pérolas a energúmenos, é o que eu te digo.

rantanplan disse...

Não conseguindo embarcar na vossa paixão pelo vidro esmigalhadinho, coitadinho, tenho a dizer que essa coisa do estar quieto e calado, de facto, é de notar. Não estão a twittar, nem no facebook, nem num forum da radio nem nada, não é? Estranho... e giro

capacete disse...

Exactamente, Rantanplan. Com leitores assim perspicazes, até dá outro gosto.
E no entanto, exclusivamente para os arquitectos (portanto, para a PMarques) havia um duplo sentido no arranjo dessa frase. É que os dias que correm sao tao estranhos que até mesmo a(lguma) arquitectura nao resiste a falar, cantar e fazer um sapateado para as camaras...
Mas isso sao outros desabafos.

pmarques disse...

não querendo filosofar (ainda para mais neste final de ano e aproximação de um novo ainda menos sorridente), sempre tive dificuldade em ver os edifícios como "quietos e calados"! acho que é sua obrigação dançar e cantar (e encantar), seja hip hop ou uma ópera. ou mesmo um rap contestatário!

rantanplan disse...

Cantar e dançar estando quieto e calado, pmarques... isso é que é poesia, mesmo, não? Ou arquitectura, vá lá, valha-nos Deus

capacete disse...

rantanplan,
isto sao coisas que a pmarques gosta de dizer, para provocar... mas os projectos dela cantam baixinho e só dançam slows, felizmente. sao sossegadinhos.