sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Agora que penso nisso

Foi tudo muito estranho.
O meu dia de anos decorria semelhante a todos os outros: desde manha cedo atendendo os mesmos telefonemas de sempre, da família, dos amigos, dos admiradores e dos principais líderes mundiais (José Sócrates foi dos primeiros a ligar, ainda ofegante da sua meia-maratona-madrugadora).
De repente, entre parabéns e cumprimentos, estava alguém do outro lado da linha (resistirá esta expressao muito mais tempo? há que tentar preservá-la...) a perguntar-me se aceitava um emprego. O ingles era tao perfeito que julguei tratar-se do meu antigo patrao, a gozar comigo desde Lisboa. Mas nao, era mesmo de um atelier de Manchester, para onde tinha enviado o meu portfolio havia um mes e onde tinha sido entrevistado na semana anterior.
«Bonito costume, este de oferecerem empregos às pessoas, pelo seu aniversário!», pensei eu. Que ninguém se ofenda: adorei receber cada um dos presentes que me enviaram, tao atenciosos e personalizados! Mas um emprego era mesmo aquilo de que eu precisava - embora nao o que eu realmente queria, como percebi logo que desliguei o telefone e comecei a antever todas as eminentes mudanças, nos meus hábitos recém-adquiridos... Mas já percebi que nao há salário sem trabalho, por isso aceitei.

Na altura, nao juntei dois mais dois (agora é que estou a juntar, e cá para mim vai dar quatro), mas o meu sogro tinha acabado de vir cá fazer-nos uma visitinha.
Veio por uma semana inteira, alegadamente para matar saudades das miúdas, mas fartou-se de viajar sozinho por Manchester e Liverpool, sempre com uns caderninhos debaixo do braço. E chegou com uma garrafa de Chivas Regal para oferecer ao genro, porque este tinha assumido publicamente que nao bebia whisky enquanto nao tivesse emprego.
Na altura, nao desconfiei de nada. Eu, que também sou pai e amo as minhas filhas acima de tudo, nao suspeitei nem por um segundo. Nunca me ocorreu que o senhor pudesse realmente estar chateado, por saber que a filha pega todos os dias ao serviço numa fábrica de carros e sai para a rua às 7:00 da manha faça frio ou faça chuva, enquanto o marido se dedica à nataçao e ao body-building.
Só agora é que, como se diz por aqui, realizei: o meu sogro veio até cá para me arranjar emprego, de uma vez por todas. Nao sei lá como é que fez, conseguiu.

8 comentários:

Anónimo disse...

obrigada por encontrares este belo pedaço de história... de quando ainda acreditávamos que este país à beira-mar plantado tinha futuro na era moderna (liberdade, igualdade e fraternidade). não vês os nossos noticiários, se visses verias como p'ró ano seremos mais aí, convosco! (desculpa, foi só um desabafo de descrença)

ainda sobre o dia 7 de novembro... estás enganado, eles não dão emprego no dia do aniversário, estavam era à espera que atingisses a maioridade!

JoanaM disse...

Podes pedir mais empregos ao teu sogro? E ele precisa do CV?
PARABENS! Mais uma nova etapa que se aproxima!
Bjs aos 4.

Anónimo disse...

pmarques: quanto à maturidade, perdão, maioridade, enganou-os bem, não é? O capacete gostava mesmo era de estar (hoje!) em palco com os heróis do mar, vestido tal e qual daquela maneira e a tocar (salvo seja) baixo!! Eighties forever, estava demais... E os saltinhos em palco? Tempos difíceis, muito havia a provar...

Anónimo disse...

Muitos Parabéns pelo emprego, mas tb pelo post "Amor de Pai"!! Esperemos que o emprego não interfira com coisas sérias, como o blog!! Bjs

Anónimo disse...

Os contactos do teu sogro serão só na Arquitectura?

Anónimo disse...

Capacete, por favor envia o teu sogro por uma semana para casa do Rantanplan.

joao disse...

Parabéns pelo Job! O grande mestre da arquitectura está de volta! Agora é que a arquitectura inglesa vai começar a dar cartas! Força ai para as mudanças de ritmo, e não te deixes desanimar, senão....arranjo-te outro livrinho para escreveres :)

Abraço deste teu amigo, agora "assistente estagiário" ;) mas nunca esse vulto da arquitectura e do ensino (pelo que os teus antigos alunos me descrevem)que tu algumas vez conseguiste ser! :)

capacete disse...

Joao:
agradeço-te os elogios, mas tanta expectativa só pode ser prenúncio de desilusao!
quanto aos alunos... sao miúdos, e fáceis de impressionar, como tu decerto também descobrirás! boa sorte para essa nova etapa.
grande abraço