sexta-feira, 6 de março de 2009

Done

(continuaçao)

No afã com que se dedicam a “pacotear” (chamemos-lhe assim, porque aqui se trata nao de empacotar, mas sim de dividir em pacotes) os projectos dos arquitectos, os PM fazem-me lembrar aquelas crianças que, fascinadas com um brinquedo ou com um mecanismo complexo, o desmontam compulsivamente, reduzindo-o às partes mais elementares, sem se darem conta de que, provavelmente, nunca mais aquilo vai voltar a ser o que era.
De modo que, por estranho que pareça e embora se desvaneça (geralmente logo depois de receber o primeiro mail da manha), os PM às vezes até me suscitam uma espécie de comiseraçao. Na verdade, nao me chateia nada que alguém pegue no meu projecto e o desmanche todo aos bocadinhos: com muito gosto até o ajudo, explico por onde partir para nao quebrar, e garanto que nada fica de fora.
Mas o que eles fazem nao é bem isso. A sua pressa é tanta que, na prática, eles começam a desmontar o projecto ainda antes de nós termos acabado de o montar. E assim, está bom de ver, ninguém se entende. A culpa, já se ve, é novamente do Excel; mas deixem-me explicar melhor.

Escondido algures num dos seus infinitos menus, essa maravilhosa folha de cálculo tem também um calendário, e ferramentas que permitem ao Project Manager fazer uma coisa chamada cronograma. Começa numa longínqua data futura, normalmente a da inauguraçao da obra, e depois vai andando para trás, estabelecendo prazos para cada uma das etapas, que podem ser sequenciais ou decorrer em paralelo, atendendo às interdependencias, etc e tal... Supostamente, esse documento ajudaria a equipa a controlar os timings e a estabelecer as prioridades, mas como se chega sempre a uma tabela toda preenchida a encarnado, indicando já derrapagens irremediáveis, só serve para espalhar o panico entre as hostes (os mais calculistas começam logo aí à procura de um bode expiatório).
O primeiro a perder a cabeça é, normalmente, o próprio PM. Como descobre que já está atrasado para adjudicar o ferro (e, como o mercado é tao volátil, precisa de o pôr todo num unico pacote, e quanto mais cedo melhor), volta-se para o arquitecto e pede-lhe que forneça imediatamente ao engenheiro toda a informaçao necessária para determinar com rigor quantas toneladas, quantos metros lineares de cada perfil, vao ser precisos na obra.
(Às vezes até tenho a sensaçao de que ainda podia fazer um arranha-céus em vez da escola, desde que usasse o mesmo ferro.)
Quando o arquitecto esperneia, argumentando que só conseguirá faze-lo «lá mais para o fim» do Projecto de Execuçao (tres meses, segundo o contrato), o PM contrapoe que ele tem vinte pacotes para preparar, e que com certeza os outros também lhe tomarao algum tempo. Faz um ar sério enquanto finge consultar um gráfico e, uns segundos depois, estende generosamente o prazo para tres semanas.
Mas quem já fez um projecto completo, de uma casota para o cao que seja, sabe que o ferro é mesmo assim: é sempre no fim que se descobre que afinal um certo perfil nao encaixa, que para eliminar um pilar é preciso reforçar uma viga, que faz falta uma cantoneira para suportar qualquer coisa. De modo que ao arquitecto nao resta mesmo outra alternativa, senao tentar fazer o Projecto de Execuçao todo, naquelas tres semanas.
(Foi aliás por causa desse frenesim, e do subsequente cansaço, que este blog teve um começo de ano tao frouxo...)
Enfim. O que lá vai, lá vai. A coisa está feita e, dadas as condiçoes que tivémos, até me parece que nada mal. Naturalmente, terá os seus erros e omissoes. Sei que, mais cedo ou mais tarde, alguém virá culpar o arquitecto, porque é preciso mais disto ou daquilo, e já nao é possível comprá-lo ao preço inicial. Nessa altura, vou fazer um ar artístico e dizer que já sabia, mas só nao o incluí porque achei que ficava mais bonito em aço inox... Ou, se o engenheiro continuar a comportar-se assim, talvez ainda diga que aquilo é para fazer em madeira: sempre gostava de o ver a tentar calcular um barrote de pinho!

5 comentários:

Anónimo disse...

deixa lá isso... os PM são assim: chatos que dói, péssimos na relação pessoal, mas no fundo boas pessoas. e por cá também os há... por vezes disfarçados ;)

olha lá, fiqui sem saber o que era o GA????

Anónimo disse...

Os hiperlinks estão fantásticos. Cada vez melhor capacete. Siga a banda!

capacete disse...

pmarques:
pois ficaste, mas andaste perto.

FMonica:
os comentários das miúdas parece que enchem mais o ego... mas ao mesmo tempo é bom saber que alguém desse lado percebeu que era para clicar nas palavras sublinhadas! abraço.

Anónimo disse...

E-u q-u-e-l-i-q-u-e-i

Anónimo disse...

o humor das miudas é mais exigente, só isso!