sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Job for the boy*

Muitos dos leitores do Capacete sao arquitectos, quase todos amigos e antigos colegas. Estou certo, por isso, de que estao ansiosos por saber novidades acerca do atelier onde comecei agora a trabalhar. Mas os mais assíduos sabem que o tema do emprego, ou da procura dele, já vinha suscitando uma série de posts e de comentários aqui no blogue... E eu nao resisto a voltar a alguns desses pontos, para lhes dar os respectivos nós.

Em primeiro lugar, avisar aqueles que pareceram interessados nos serviços do meu sogro, como gestor de carreiras: é que ainda hoje tenho que esclarecer como é que, embora tenha efectivamente trabalhado com o Manel, afinal nao participei nos projectos do Mosteiro dos Jerónimos, do Convento de Cristo e da Estaçao do Rossio.
Depois a questao da altura do patrao: foi com muita satisfaçao que vi a minha teoria ser corroborada pelas reputadas práticas britanicas de gestao de empresas e recursos humanos. Lá no atelier, o mais alto é o chefe. Há outros mais velhos, mais fortes, mais bonitos, mais inteligentes, mais cultos. Mas nenhum mais grande! Escusado será dizer que o escritório vai de vento em popa...
E, por último, essa relaçao – tantas vezes mal compreendida – entre o labor do arquitecto e a garrafa de whisky. Nunca aqui desenvolvi o tema, nem agora é o momento; queria só registar que o meu patrao se chama John Walker. “Nada de especial!”, dirao alguns, e eu até concordo; mas, se daqui a um ano ou dois eu me mudar para o Chivas Regal, voltaremos a falar nisto.

Agora, entao, algumas inconfidencias a propósito do atelier; mas nao muitas, porque aqui as coisas sao a sério e o meu contrato (sim, há um contrato) tem umas cláusulas um bocadinho penalizadoras caso eu torne públicas informaçoes que venham a revelar-se prejudiciais para a firma.
O escritório, como já sabem, fica em Piccadilly Garden, que é, simultaneamente, o maior espaço verde do centro da cidade, a área comercial por excelencia e o grande hub de transportes públicos, onde confluem dezenas de autocarros, várias linhas de tram e o comboio, que me deixa a menos de cinco minutos da porta.
O número é o mítico 33, que corresponde realmente ao 5º andar onde o Diogo Teixeira tao bem me topou. Razao tinha a Pmarques, quando disse que na torre do outro lado da praça a vista seria melhor... Mas, tendo em conta que o elevador do atelier avaria dia-sim-dia-nao, acho que sempre prefiro ficar mais cá por baixo.
Subir as escadas até ao quinto andar, logo pela manha, faz-me aliás recordar os meus tempos de recém-licenciado, quando o JP tinha atelier num sótao da Lapa. E, como daí fui despedido porque quando chegava lá acima (alegadamente) arrastava os pés, aqui tenho o cuidado de guardar um último folego para entrar no escritório marchando, com os joelhos quase a bater no peito, numa inconfundível demonstraçao de energia e motivaçao, se nao mesmo de grande competencia.
À entrada, dá-se de caras com a I., que é a recepcionista e secretária. A pessoa certa, no lugar certo: pequena, discreta, atenta, maternal. Nunca nos interrompe sem pedir desculpa, e presume sempre que estamos a fazer qualquer coisa mais importante do que prestar-lhe atençao. Mas, se a I. é uma mae, ao lado dela trabalha a J., que é mais do tipo madrasta. É licenciada em gestao e (coisa insólita, herética!) também sócia da empresa: implacável com a burocracia, tem uma natureza disciplinadora, mas sabe manter-se à margem de tudo o que é assunto técnico ou artístico. As duas complementam-se bem, assegurando as condiçoes para que os arquitectos se dediquem exclusivamente a arquitectar.
O meu primeiro dia, de resto, foi passado inteiramente com elas, pois aqui é obrigatório por lei realizar uma induction. Apresentaram-me as instalaçoes, o meu posto de trabalho, o computador, a rede e o server. Discutimos o horário, explicaram-me as rotinas, as férias e os pagamentos, os impostos e a segurança social, a ausencia por doença ou apoio à família, tudo e mais alguma coisa! Para o fim, reservaram uma exaustiva sessao de esclarecimento sobre Higiene e Segurança no Trabalho (uma verdadeira paranóia nacional, muito estimulada pelas companhias de seguros e certos escritórios de advocacia), durante a qual enchi de cruzinhas várias folhas A4, confirmando que me tinham sido explicados os mais básicos procedimentos nos mais ínfimos detalhes.
E mandaram-me para casa, estudar o contrato e o manual do trabalhador, ao qual agrafaram uma planta do escritório, com as secretárias e os nomes dos colegas, para eu ir decorando. (to be continued)

* Devo ao FMonica (entre outras coisas) o título deste post.

3 comentários:

Anónimo disse...

Tás a dizer a sério que ele se chama John Walker?

Anónimo disse...

BU! disse....

Bem bom! Olha se se chamasse john baileys ou john malibu ou até john 51! Fizeste a escolha certa rapaz! daí só sais para o atelier do Sr. Arq. Cardhu e depois de te teres enfrascado no azul!

keep walking

abraços e bjs

Anónimo disse...

muitos parabéns...keep walking!