quinta-feira, 9 de julho de 2009

Novas de Piccadilly



As fotos que aqui publiquei em Dezembro mostravam Piccadilly Garden praticamente deserto, transido de frio sob um manto de neve. Esse cenário mudou muito com a chegada do Verao.
Durante todo o dia, mas especialmente à hora de almoço, o relvado enche-se de gente estendida ao sol: a comer, a ler, a dormir, a conviver... Gente que vem, obviamente, preparada para o evento: um biquini debaixo da roupa de trabalho, uma toalha de praia ou uma manta de pic-nic, um livro, uma bola ou um disco voador. E, claro, nesta época a Camara reactivou a fonte do pavimento, que repuxa inesperadamente e com força, refrescando os mais encalorados e as turmas de liceais que por ali se reunem e aventuram em grande histeria.

Ve-se parcialmente nesta foto, a rematar o relvado, um pavilhaozito modesto com uma pala minúscula, de um arquitecto japones que é muito bom a descofrar betao. Sombrio e inóspito, esse espaço nesta latitude permaneceu para mim um mistério durante todo o Inverno.
Mas agora já percebi: a pala está ali porque o Verao às vezes aqui dura só uma ou duas horas, e as pessoas precisam de correr para qualquer lado quando o céu lhes desaba em cima, de um momento para o outro.
Do quinto andar em que trabalhamos, escusado será dizer, habituámo-nos a evitar olhar cá para baixo; mas, quando se ouve o trovao, corremos às janelas para assistir à debandada, e fingir (ainda que só por uns instantes) que estamos melhor lá dentro.

Há quinze dias, pela primeira vez desde que cheguei, tive que trabalhar no sábado. Às nove e meia da manha, ainda Piccadilly está estremunhado: é evidente que as noites de sexta nao acabam cedo. Mas no meio do relvado havia já grande movimentaçao, e um dispositivo impressionante voltado para os passeios laterais: carros de combate, jipes, tanques, baterias anti-aéreas, um helicóptero, e muita tropa.
Uma faixa enorme explicava que era o Dia das Forças Armadas. Havia também uns stands de recrutamento, num estilo algures entre o contentor showroom da vila utopia e a roulote do rei das farturas, e um letreiro que apregoava: Army – a life with no limits. Bom, eu nao gosto de ser desagradável, mas lembrei-me logo que quase todos os dias volta um do Afeganistao, que já nao diria o mesmo.

Nao se ve nesta foto, mas, num dos edifícios mais proeminentes de Piccadilly, de orgulhosa bandeira desfraldada num mastro inclinado da fachada, fica o Consulado Geral de Portugal. Um destes dias, à hora de almoço, dei lá um pulo, para ver se marcava uma entrevista de aconselhamento geral, porque há vários aspectos burocráticos da nossa mudança que ainda estao pendentes. Mas o porteiro nao me deixou subir.
Só com entrevista marcada. Mas é precisamente isso que eu venho fazer. Mas só pode subir se já estiver marcada. Entao pode dar-me o telefone, para eu marcar? Nao estou autorizado. Nao está autorizado a dar o número de telefone? Entao como é que as pessoas marcam a entrevista? Por internet. Por internet? Por correio electrónico. Entao pode dar-me o endereço, por favor? O endereço nao sei, mas se for à webpage e clicar em contactos, vai ver que aparece.
Eu sei que no 9º ano nao escolhi a área D e que, se calhar, se tivesse escolhido, a esta hora escusava de estar a perguntar isto, mas fui para as artes e agora nao sei: o Consulado, pago com os nossos impostos (nunca é demais referir), nao tinha o dever de prestar auxílio a um cidadao nacional que por aqui esteja em apuros, do género ser burlado e ficar sem dinheiro, ou perder a carteira com todos os seus documentos, ou coisa do género? Esses pobres coitados vao à webpage clicar em contactos e ficam à espera da marcaçao de uma entrevista? E nao haverá portugues a precisar do Consulado que nao tenha acesso à internet?
Claro que, mandado o mail, a resposta veio negativa. Nao marcam entrevistas de carácter geral. Pedem que especifique quais os actos consulares que tenho em vista, e recomendam que browse melhor a página, para ter uma ideia. Sinto que estao a gozar comigo. Lá respondo, lá espero resposta, lá respondo... Aos poucos, parece que estou a obter as informaçoes que precisava. Mas, neste fantástico mundo de ponta tecnológica, vai demorar meses até que esclareça tudo aquilo que poderia perceber em meia hora de conversa com alguém competente.
Sabem que eu detesto ser má-língua. Mas, se fazem tudo para nao receber as pessoas, escusam de pagar um balúrdio por uma renda de um andar gigante, num dos edifícios mais centrais da cidade. Ou será que, à boa maneira portuguesa, o consul já sub-alugou aquilo, e agora despacha o serviço todo a partir do seu Magalhaes, numa escrivaninha de pinho que tem lá em casa?

3 comentários:

JoanaM disse...

pois... eu hj estive nas finanças q é isso em ponto grande...

pmarques disse...

e as eleições? não cumpriram nas europeias, está-se mesmo a ver, com um consulado desses, quem cumpre... mas as legislativas e, principalmente, nas autárquicas precisamos de votos conscientes (?!)esclarecidos (?!) bom, alguém que não vote no santana! ainda podem votar nas autárquicas?

rantanplan disse...

E para quando uma foto do capacete de tanga no relvado e a comer sandes de pepino à hora do almoço??
Será que não foi por isso que no consulado o olharam de lado? O tuga é pobrezinho, mas arranjadinho...