segunda-feira, 6 de julho de 2009

Pontualidade e decoro

(para o meu querido Rantanplan)


Um Pai Natal à moda antiga, daqueles que se preocupam em oferecer o presente certo à pessoa certa, pos-me no sapatinho do ano passado o romance “O Bom Nome”, de Jhumpa Lahiri. Talvez alguns o saibam, de ler o livro ou de ver o filme: é a história de duas geraçoes de uma família bengali, que emigra da Índia para os Estados Unidos.
Claro que a América é mais americana que a Inglaterra, e os bengali sao mais indianos que nós... Mas, mesmo assim, as afinidades com a nossa situaçao eram mais que muitas, e fizeram com que a Ana e eu disputássemos o livro quase página a página.


Ora, eu li-o quase todo no comboio, nas viagens diárias entre Nantwich e Manchester. E portanto, ao contrário do protagonista, nao fiquei surpreendido com o que lhe é dito por um estranho, logo no primeiro capítulo: que a Inglaterra é um país onde os comboios chegam a horas, e ninguém cospe no chao. Assim é: pontualidade e decoro! As duas casam tao bem que eu até estou a pensar sugerir à J.A. este título para uma sequela do outro romance (e, com sorte, talvez ela tenha algum para a troca, porque o da segunda aventura da Margot está encalhado).

Confesso que, ao princípio, até nao estava a achar o comboio especialmente cumpridor: foi duas vezes cancelado sem aviso prévio; um dia ficou parado duas horas por causa de um problema na linha; em 3 ou 4 ocasioes atrasou-se dez ou quinze minutos... Mas, ao mesmo tempo, comecei a reparar melhor em certos pormenores: a alcatifa e os estofos de boa qualidade, o trolley com chá e jornais, a completa ausencia de gangs juvenis...
Peguei num mapa e confirmei: porque fica ligeiramente afastado de Crewe, Nantwich escapa à esfera mais suburbana de Manchester, e é servido por uma linha de longo curso, que vem do sul do País de Gales. O comboio que eu apanhava às 8:16, e me deixava em Piccadilly às 9:10, saía de Milford Haven às 5:30! Claro que a minha complacencia para com aqueles percalços aumentou proporcionalmente, e passei a encarar cada chegada à tabela como um pequeno milagre diário.
Entretanto, já no princípio deste ano, preocupou-me a notícia de que os horários iam sofrer alteraçoes: é que eu nao posso deixar as meninas mais cedo na escola, nem posso chegar mais tarde ao trabalho... Felizmente, afinal, eram só uns ajustes: o meu comboio, por exemplo, deixou de ser às 8:16 e passou a ser às 8:19. Mas alguém, no seu perfeito juízo, imprimiria novas tabelas por causa disso? Aqui, fazem-no. E respeitam-nas.

Nao satisfeita com cumprir os horários, a ARRIVA TRAINS WALES (assim se chama a companhia, recentemente privatizada) parece empenhada em tornar as viagens agradáveis para as pessoas que transporta. Manias.
Para o efeito, tem permanentemente em curso uma campanha em que apela ao civismo dos passageiros. É certo que aqui, nao sei se por influencia da moral anglicana, se por culpa das normas de correcçao política, essas iniciativas parecem frequentemente querer ir longe demais. Mas esta tem sentido de humor, o que é, pelo menos, um princípio salutar.
O primeiro outdoor que vi lembrava que os funcionários da empresa tinham o direito de trabalhar sem ameaças nem intimidaçoes, e que todos os abusos seriam denunciados às autoridades. Mostrava o letreiro de uma esquadra de polícia, e avisava em letras grandes: Don’t end up in the wrong station.
Depois, reparei numa série de tres, que chamam a atençao para alguns comportamentos menos próprios (mas bastante comuns), parodiando com muita graça tres clássicos heróis Marvel.
E, por último, o meu preferido. Um exuberante cartaz cheio de flores, totalmente preenchido com corolas e pétalas de todas as formas, pleno de cor-de-rosa, roxo, carmim, lilás, grenat, encarnado e laranja. Em grande destaque, diz: Somethings are obviously too loud!; e depois, em letras muito pequeninas, acrescenta: Be considerate to fellow passengers, and keep noise down when traveling.

3 comentários:

rantanplan disse...

Quando parar de fungar já falo contigo...

arnage disse...

(hoje é dia de grande festa... o nosso Rantanplanzinho faz anos)

VIVA RANTANPLAN!

Aqui há bolo para cantar os parabéns ao nosso tão querido Rantanplan… não tem mais que 8 velas pois é o máximo que a M admite que alguém tenha.

Um grande beijinho de parabéns neste dia tão importante para todos nós.

pmarques disse...

parabéns, rantanplan!