quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Postal No1


Sesimbra, 15 de Agosto de 2009

Caros amigos,

Cá vai, provavelmente para chegar atrasado, um postalzinho à moda antiga, mostrando uma vista da baía de Sesimbra, onde viémos passar a maior parte das nossas férias.

Pus-me a fazer contas, e já lá vao mais de 30 anos, desde o primeiro Verao em que para aqui vim. A praia nao mudou nada: o mar calmo e o areal curto fazem dela o lugar perfeito para os pais trazerem tranquilamente os filhos pequenos. É uma praia familiar (aliás, a minha família está bastante presente), onde toda a gente se conhece do toldo ao lado, deste ano ou do ano passado.

Uma das coisas que faz a praia segura é que a Camara Municipal mantém os homens sinistros e os loucos perigosos à distancia, graças à inovadora política de lhes oferecer gabinetes e ocupaçao permanente, como vereadores do urbanismo, do transito e do espaço publico.

Meus amigos: do paredao para fora, está tudo perdido! A marginal, que tinha um equilíbrio simpático de passeio, estacionamento, faixa de rodagem e pequenas esplanadas, foi “conquistada para os peoes”. Mas um passeio daquela largura nao se justifica nem em frente aos Pasteis de Belém e, para nao parecer vazio, toca de enche-lo com bancos, palmeiras, brise-soleils, ecopontos, moopies e toda essa tralha urbana.

Quem precisa de vir de carro para a praia segue apertadinho entre ciosos pinos, no pára-arranca das grandes cidades (porque as cargas e descargas precisam de se fazer, e a largura da via nao permite mesmo um carro passar ao lado do outro) até ao estacionamento em altura mais estrambólico que é possível imaginar (nem vou tentar explicar, digo só que é preciso descer se queremos subir, e que o contrário também é verdadeiro).

Mas o pior ainda é para quem vai a pé. Claro que os senhores repavimentaram tudo, e agora o passeio é feito com um mosaico de granito serrado, com 2 pífios centimentos de espessura, colado com cimento. Cinzentinho escuro à arquitecto moderno, aquece ali ao sol de uma maneira que nunca mais ninguém saiu da praia descalço; está todo ratado por tampas de esgoto e sarjetas semeadas ao Deus-dará, e claro que nas zonas mais frágeis (por exemplo nas lindas molduras de canteiros com cantos a 45º) já está todo partido e a levantar, fazendo cair os mais desprevenidos, alguns deles meus queridos.

Portanto, voces estao mesmo a imaginar-me, entro na praia a bufar e saio a bufar da praia. Nao consigo parar de pensar na calçada antiga que lá estava, tao docemente amaciada pela brisa, pela água salgada e pelos pés com areia de tantas geraçoes. Onde é que aqueles brutos criminosos terao ido despejar esse entulho? Eram umas boas centenas de metros cúbicos!

Bom. Saúde para todos, sao os melhores votos deste vosso amigo.

(assinatura ilegível)

PS: arquitecto que lá vá nao pode deixar de dar um pulo à frente do mercado, para ver o incrível posto de transformaçao que ali fizeram, aproveitando um “espaço vago”. Juro. Vale mesmo a pena.

4 comentários:

rantanplan disse...

pronto, há sempre estes velhos do restelo, o que se vai fazer? Pífios 2 cm... honestamente... apetece perguntar de que espião é que estás a falar!!!

pmarques disse...

rantanplan, mesmo uma progressista como tu tem de admitir que, neste caso, estiveram mal, muito mal...

capacete disse...

a rantanplan está convencida que 2cm é uma medida perfeitamente normal. a bem do casamento, deixemos a coisa andar. lá mais para o fim da história (geralmente na última vinheta) acabará por se aperceber.

rantanplan disse...

Ai, ai, ai,ai.......... tu queres ver que eu tenho que contar outra vez a anedota dos anões?!!