sexta-feira, 1 de maio de 2009

Design for Access

Nao é estatística: é vida real.
Aqui, basta sair à rua, nota-se logo que há muito mais deficientes motores do que em Portugal. Veem-se também bastantes idosos que se deslocam sobre rodas, em veículos mais ou menos electrosofisticados.
A explicaçao para isto, receio bem, nao é a excelencia do gene lusitano, nem a complacencia dos médicos ingleses com falsas incapacidades e reformas antecipadouradas.
A explicaçao para isto, estou convencido, é que aqui essas pessoas tem condiçoes para sair de casa: passeios nivelados, lancis rebaixados, estacionamento regrado, elevadores funcionais, espaço extra para manobrar. Condiçoes até demais?

Manchester, nesse aspecto, é um caso extremo. Nao satisfeita com a legislaçao nacional, a Camara aprovou um regulamento municipal, elaborado por uma comissao de arquitectos peritos e de representantes de todas as associaçoes de deficientes, que se aplica a qualquer edifício público e/ou publicamente financiado.
Só uns exemplos, à laia de curiosidade: uma rampa nao pode ter mais de 5% de inclinaçao, precisa de corrimao de ambos os lados e de patamares horizontais a cada dez metros (os ingleses tem obviamente menos força de braços do que nós, apesar de todo o críquete que jogam em miúdos); qualquer corredor tem que ter, no mínimo, 1.80m de largura (nao é para uma cadeira de rodas passar, nem sequer para uma cadeira de rodas girar... é para duas cadeiras de rodas se cruzarem à vontade); a cor das portas tem que contrastar com a das paredes (parece que há pessoas, nao cegas, mas quase, que nao se orientam se tudo à volta for demasiado homogéneo).

Os arquitectos (vejam só, logo quem!) gostam de protestar contra estas ditaduras das minorias, e eu julgo que muitas vezes até com alguma razao. Afinal, é triste ver um átrio de entrada de um edifício, ou a sua escada principal, transformados em autenticas camaras de tortura. Mas valerá a pena? Nao sei.
Nao sei, mesmo! Ontem de manha, na movimentadíssima zona de Piccadily, cruzei-me com uma mulher cega numa cadeira de rodas. Fiquei pasmado, a ve-la subir a rua, agitando a bengala com uma mao e comandando a cadeira com a outra. Sozinha, sem ajuda. Atravessou a estrada e seguiu, na direcçao da estaçao de comboios. E isso foi, pelo menos, tao emocionante como o Partenon.

3 comentários:

pmarques disse...

nunca fui ao partenon...
mas percebi outro dia que uma cadeira de rodas ou mesmo um carrinho de bebé, não tem como chegar à frente ribeirinha se estiver do lado de cá da linha (entre cais do sodré e algés). vocês aí estão demasiado à frente, mas caramba, nós também estamos demasiado atrás...

JoanaM disse...

Pois é... aqui as cadeiras de rodas quase não podem sair à rua...por isso se vêem tão pouco. Uma das coisas que me marcou na suiça tb foi isso. Vêem-se cadeiras de rodas todos os dias a passar nos passeios preparados para tal! Mas aqui não vejo como isso pode mudar.

K6 disse...

Impressão minha, ou aqui no blogue já não se distingue o recurso estilístico da mentira compulsiva? Quando é que o menino esteve na Grécia, pode saber-se?