domingo, 7 de setembro de 2008

Os carteiros

É impossível nao simpatizar com um homem que se faz transportar numa bicicleta. Quem pilota um jacto privado pode ser um esclavagista moderno; quem comanda um barco pode ser um traficante de droga; quem conduz um carro pode ser um arquitecto com ideias; quem guia uma mota pode ser um assaltante de esticao. Mas quem anda de bibicleta é inofensivo, com certeza.
Naturalmente, nao estou a falar dos adolescentes das BMX, que fazem parte de gangs e andam à naifada uns aos outros, nem dos radicais ciclistas de domingo, que durante a semana sao gestores de companhias de seguros.
Falo daqueles que, quotidiana e humildemente, usam a bicicleta como o seu meio de locomoçao, ou mesmo como o seu instrumento de trabalho. No topo da lista, claro, estao os carteiros: primeiro lugar para François em Jour de Fete, segundo para Mario Ruoppolo em Il Postino, terceiro (ex aequo) para todos os funcionários do Royal Mail.



Apesar de se terem atrasado mais de quinze dias na entrega do postal da Catarina para as meninas, a minha admiraçao por eles é total. Ao contrário do carteiro Paulo, estes daqui nao andam em carrinhas engraçadas: andam sempre de bicicleta, e portanto quase sempre à chuva. Aqui no bairro, sao dois:
Há o carteiro, que é um quarentao com um bom aspecto tremendo: cara e corpo enxutos pelo exercício e pelo ar livre, cabelo encaracolado preto com muitos brancos pelo meio. O género de homem que em Milao seria modelo, em Hollywood seria actor e em Portugal seria primeiro-ministro. Aqui é carteiro, e parece feliz com isso: haviam de ver a graça com que sobe para a bicicleta em andamento (exactamente como fazia o meu avo Chambel)!
E há a carteira, uma jovem sardenta e risonha, de cabelo ruivo encaracolado, com uma figura atlética (faz lembrar aquelas bielorussas que ganham medalhas de ouro no lançamento do peso). A bicicleta range, os pneus nunca pareceram tao fininhos, mas a coisa marcha... Um destes dias vimo-la a distribuir correio só com uma mao, parecia trazer o outro braço ao peito. Cumprimentámo-la ao longe, mas ela chamou a Sarinha, para ver: trazia um pardalito ferido ao colo!

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