sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Lost

Os arquitectos sabem quem foi Ebenezer Howard, percebem essas piadas à primeira e, assim como assim, já devem ter uma boa ideia de como é Stapeley, este bairro onde viémos morar, que é igual a qualquer bairro residencial na periferia de qualquer centro urbano em Inglaterra. Entao, a pensar sobretudo em todos aqueles que tem a felicidade de nao serem arquitectos, deixo aqui uma vista aérea.



Posto (ou postado?) isto, talvez ninguém fique demasiado chocado ao saber que ontem, praticamente dois meses depois de nos termos instalado, consegui perder-me ao voltar a pé para casa. Nao me perdi durante muito tempo: pura e simplesmente virei à direita quando devia ter virado à esquerda, porque nao me apercebi que já estava na minha própria rua, e caminhei cem metros na direcçao errada, até avistar a estrada que delimita o bairro e perceber que era para voltar para trás.
É especialmente confrangedor esse momento em que, perante o olhar dos outros, hesitamos, estacamos o passo, damos meia volta e começamos a andar no sentido contrário àquele em que tao convictamente avançávamos. Tentei disfarçar, levantando um dedo no ar assim numa pose aristocrática, como se me tivesse de repente lembrado de qualquer coisa, que me obrigava a voltar para trás. De orgulho ferido, lá vim remoendo, tentando escamotear a minha responsabilidade no caso.
Em primeiro lugar, a culpa é dos urbanistas, que perderam as réguas e os esquadros, desenham as ruas todas à mao, ou com «cobras» (alguém ainda se lembra?): começam perpendiculares, mas depois ziguezagueiam, tornam-se paralelas, fazem um oito quase perfeito, curvam para o lado oposto e finalmente acabam num impasse, ou voltam ao ponto de partida... Assim, quem é que se orienta?
Em segundo lugar, a culpa é dos arquitectos (será mesmo mais do que um?), que fazem os edifícios todos iguais: a menos que se vá atento a pormenores, nao se distingue uma casa grande de umas moradias geminadas ou em banda, nem mesmo de um pequeno prédio de apartamentos. As portas em madeira todas iguais, as janelas em PVC branco todas iguais, as paredes revestidas a tijolo todas iguais... Houvesse aqui umas Amoreiras, ninguém se perdia!
Em terceiro lugar, a culpa é obviamente destas nuvens: eu sabia que ia para norte, e tenho a certeza de que, mesmo sem pensar nisso, nunca caminharia contra o sol (é verdade, eu ainda me lembro que ele existe)...
Agora ando a matutar nisto: se eles sabem que o clima é este, por que é que insitem neste urbanismo e nesta arquitectura? Já sei que apreciam esta enorme discriçao, este quase anonimato. Mas como é que se guiam? Desenvolveram todos um olfacto apuradíssimo?

Sem comentários: