quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Carros IV (a rotunda)



Quando vi um destes sinais pela primeira vez diante de mim, quis parar imediatamente o carro e desistir. Juro que só nao o fiz porque nao sabia de que lado estava a berma.
Mentalmente, eu tinha elencado as principais situaçoes da conduçao, e sabia como reagir: estava muito atento às faixas para nao circular em contra-mao, aos cruzamentos para dar prioridade a toda a gente, aos semáforos e às passadeiras para nao atropelar as crianças, aos limites de velocidade para nao me tirarem o retrato ao volante de um Toyota....
Mas, nao sei como, esqueci-me da rotunda... Agora ela estava mesmo à minha frente e eu já nao podia voltar para trás. Entrei a medo, quase parado mas em terceira. O carro avançou aos solavancos, suplicando ao lado esquerdo do meu corpo que fizesse alguma coisa. O pé ainda obedeceu, mas a mao nao largou o volante, porque a direita estava a gritar por ajuda. Com a embraiagem no fundo e o carro a deslocar-se apenas por inércia, foi mais fácil acertar com a curvatura da faixa... E, logo que a frente ficou apontada para uma saída, meti a primeira e acelerei a fundo! Escapámos.
Quando recuperei a calma (ainda no mesmo dia, mas mais para a noite), reflecti sobre o que se tinha passado. Quase por milagre, dessa vez tudo tinha corrido bem; mas nada me garantia que da próxima nao houvesse um segundo carro, a circular na rotunda ao mesmo tempo que eu...
Claro que, aos poucos, a confiança foi retornando. Afinal, embora nao seja nenhum Fangio, a verdade é que tenho carta há quinze anos e nunca tive um acidente. E quem já fez o Marques tantas vezes, nao se deixa intimidar por umas rotundazinhas de província.
A dada altura, até me pareceu que o meu estilo descontraído de conduzir e a desenvoltura das minhas trajectórias já impressionavam os outros automobilistas, porque reparei que alguns olhavam para mim boquiabertos. Andei nisto uns tempos, até que, um destes dias, um deles nao só abriu a boca como levou as maos à cabeça. Fiquei a controlá-lo pelo retrovisor e pareceu-me estar a dizer qualquer coisa, que o meu fraco ingles ainda nao foi capaz de reconhecer, pela leitura dos lábios.
Fui ver à net. Afinal parece que a coisa tem regras, e muito claras, por sinal. Agora já faço tudo direitinho, realmente assim parece mais seguro e ninguém se zanga comigo. Mas quando regressar a Portugal tenho que voltar a treinar a minha capacidade de antecipaçao, ou entao estou tramado.

Sem comentários: